Bate-papo com Pedro Wood (Wood Instrumentos Musicais)
Baixo Wood Master Elite 6, 2015. |
Fundada em 1997,
atualmente localizada em Nova Friburgo/RJ, a Wood Instrumentos Musicais é uma
empresa que sempre se dedicou a oferecer instrumentos diferenciados em termos
de matéria-prima, tocabilidade e acabamento.
Ao longo dos anos,
vários músicos de destaque do cenário nacional usaram (ou usam) um instrumento
Wood. Dentre eles, o saudoso contrabaixista Nico Assumpção (Ivan lins, João
Bosco, Wayne Shorter, Larry Coryell, dentre outros).
No ano de 2000,
durante participação na Winter Namm (importante exposição que acontece
anualmente em Anaheim, California, EUA) a marca conseguiu um importante reconhecimento
vindo do mercado musical internacional, um de seus modelos exclusivos - o Wood
Master 06 - foi premiado pela Harmony Central no Golden Axe Awards.
A fim de conhecer
melhor a marca e sua proposta comercial, conversamos com Pedro Wood, músico e
proprietário da marca. Ele nos contou um pouco sobre a história da empresa e
sua proposta, explicou detalhes acerca das linhas de produtos oferecidas ao
público, madeiras nacionais, dentre outros assuntos.
Por Álvaro Silva (ahfsilva@gmail.com)
*** Clique sobre as fotos para melhor visualização.
Como
surgiu a Wood Instrumentos Musicais?
Pedro Wood: Desde o final dos
anos 80/início dos 90 os instrumentos Wood eram feitos de forma artesanal,
naquele sistema de sinal para compra dos insumos e finalização do pagamento
contra a entrega. Os instrumentos acabavam demorando 08, 10, 12 meses para
serem entregues e usavam peças conseguidas no mercado ou trazidas pelo próprio
cliente, num sistema bastante informal. Eram ótimos instrumentos para a época,
mas careciam de padrão e de um melhor acabamento, que é algo que exige
estrutura.
Em 1997, por conta
da notoriedade alcançada pela marca no RJ e pela crescente demanda por
instrumentos de qualidade, foi fundada a Wood Instrumentos Musicais Ltda. O
objetivo era o de profissionalizar a produção, padronizando e batizando
modelos, melhorando a qualidade do produto com investimento em estrutura e até
mesmo fazendo os instrumentos custarem menos graças à otimização da produção
e à importação direta das partes mecânicas (Gotoh) e elétricas (EMG) que
seriam usadas nos instrumentos e que seriam os padrões utilizados nos modelos.
Acabamos por montar a fábrica no ES e a trabalhar quase exclusivamente com
lojistas parceiros no próprio ES, assim como RJ, MG, PR e BA. Nessa época
fabricávamos eminentemente contrabaixos - nossos modelos Scorpion e Master
fabricados em série. Raras guitarras custom
shop foram feitas. Em 2000 participamos como expositores da Winter NAMM em
seu centésimo aniversário, quando um de nossos baixos foi premiado pela Harmony
Central no Golden Axe Awards. Essa fase da fábrica no ES durou até 2002, quando
nos mudamos para Nova Friburgo, RJ. Nosso objetivo nessa época era fabricação
em série de instrumentos de alto padrão a um custo razoável para o consumidor.
Tínhamos como filosofia da empresa o uso somente de madeira brasileira na
confecção dos instrumentos.
Qual
é a proposta atual da empresa?
Pedro Wood: Houve grandes
mudanças no mercado do início do século para cá, que nos levaram a trabalhar
apenas com fabricação e venda direta ao consumidor final (não mais com
lojistas), a termos um foco maior na parte custom
shop, a usar madeiras não brasileiras em alguns modelos a pedido de alguns
músicos e a buscar algumas novas parcerias com profissionais de alto gabarito
(Solano Luthieria nas linhas custom shop)
e com outras empresas fabricantes de partes. Além das tradicionais partes Gotoh
e EMG, passamos a usar em modelos tradicionais o hardware Hipshot, também usado nas linhas Custom, juntamente com
Schaller, Christian Bove e captadores Malagoli. Em algum momento pretendemos
fazer algo com a Nova Guitar Parts e com a Customy Pickups também. O
objetivo é o de abrir mais o leque de opções para o consumidor de produtos custom, elevar a qualidade do produto
final da Wood e proporcionar ao cliente a possibilidade de realmente ter o que
deseja de seu instrumento personalizado.
A
empresa oferece uma linha de guitarras e contrabaixos que abrange tanto os
instrumentos com características vintage quanto
modernas. São modelos customizáveis? O que o cliente pode escolher?
Pedro Wood: Nossas linhas
baseadas em modelos tradicionais são as linhas T-Rex Custom e T-Rex Classic. Na
T-Rex Custom, que é uma releitura de modelos clássicos com algumas modificações
de projeto, o músico pode escolher acabamento, captação, cor do hardware e alguns outros detalhes. Ele
pode ter o instrumento clássico do jeito que quiser, da cor que quiser e com o
som que quiser. Já na linha T-Rex Classic acabamos por “respeitar” mais as
características dos projetos originais, não usando as madeiras exóticas e nem as
pequenas modificações de projeto existentes na linha Custom. Hoje há uma
tendência à “fusão” dessas duas linhas por causa de algumas demandas de
consumidores.
Quais
são os grandes diferenciais dos instrumentos Wood?
Pedro Wood: Nosso grande
diferencial sempre foi o atendimento ao cliente, a orientação correta para que
ele alcance seus objetivos dentro das possibilidades do que deseja. Em muitas
ocasiões as pessoas entraram em contato com dúvidas sobre variados assuntos
ligados à sonoridade, à mecânica, à tocabilidade e a tantos outros fatores
dentro do universo dos instrumentos musicais e foram atendidas, orientadas,
mesmo sem terem adquirido nenhum instrumento Wood. Com relação ao produto, o
uso de madeira brasileira cuidadosamente escolhida, de partes e peças sempre de
ponta e o esforço para ter um acabamento impecável sempre foram diferenciais
importantes desde a fundação da empresa. Hoje estamos aprimorando ainda mais
essa exigência de qualidade total em nossos produtos.
Além
dos modelos clássicos, você também disponibiliza instrumentos com design
exclusivo. Como é a aceitação do público com relação a estes modelos? O músico
brasileiro é aberto às inovações?
Pedro Wood: A aceitação é
muito boa. Nossos modelos de baixos Scorpion e Master já estão há mais de 20
anos no mercado, muitas unidades foram fabricadas e circulam por aí. Já as
guitarras Harpia Custom, lançadas a pouco mais de 02 anos, têm agradado
bastante a quem as experimenta. Entre os músicos, certos segmentos são abertos
a inovações, gostam de testar, experimentar e descobrir, enquanto outros
segmentos são ainda muito conservadores, presos ao fetiche nas coisas mais
antigas e acabam não experimentando as novidades tecnológicas que surgiram
nesse século. De maneira geral o músico brasileiro mais jovem acaba sendo bem
mais conservador e preso ao passado do que os músicos norte-americanos,
europeus e asiáticos mais jovens, que adoram novidades e coisas diferentes,
principalmente exóticas. Curiosamente, os guitarristas costumam ser mais
conservadores e presos aos fetiches do que os baixistas.
A
maioria dos modelos da Wood tem como matéria-prima espécies de madeiras
brasileiras. Qual delas você poderia destacar como suas preferidas?
Pedro Wood: Dentre as muitas
espécies que utilizamos eu destaco a cabreúva - minha espécie preferida para
braços de instrumentos parafusados. Essa madeira foi-me apresentada pelo
Alexandre Carrozza em 2013 como substituto do pau-marfim nos baixos Scorpion
fabricados a partir de 2014. Eu buscava na ocasião uma madeira exótica para os
braços exatamente para fugir do visual "maple like" do pau-marfim que usávamos antes. É uma madeira
visualmente exótica - como eu queria que fosse quando o modelo Scorpion foi
repaginado -, de bom manuseio para beneficiamento e usinagem, extremamente
estável e de ótima dureza para a função. Não à toa foi a espécie escolhida para
os braços das guitarras Wood Harpia Custom e de todos os instrumentos da linha
Wood T-Rex Custom. Além da cabreúva, usamos para variadas funções: cedro,
mogno, jequitibá, pau-ferro, imbuia, roxinho, muiracatiara etc.
Guitarra Wood T-Rex Custom TL, 2017. |
O
músico brasileiro ainda é preconceituoso com relação à utilização dessas
madeiras?
Pedro Wood: De modo geral,
sim, bastante. Como disse anteriormente, muitos são presos a alguns dogmas
especialmente quando falamos de madeiras, e não por terem conhecimento da
matéria. Os músicos de outros continentes, que em geral também não têm
conhecimento da matéria, já são muito mais abertos nesse sentido. O fato é que
a esmagadora maioria conhece pouco ou nada a respeito de madeiras e de suas
funções e influências num instrumento musical elétrico. Há muita crendice e
muitas lendas nesse universo, até mesmo entre os luthiers.
Você
participou da última edição da Music Show. Qual é a importância deste tipo de
exposição para o mercado de instrumentos musicais brasileiros? Como foi a sua
experiência?
Pedro Wood: Participamos como
expositores da primeira edição da Music Show em 2018 e também da edição 2019
(última). A feira já é o marco principal do mercado da música no Brasil. Veio
com uma proposta inovadora e foi pioneira em mostrar ao público o trabalho dos
pequenos fabricantes no “Pavilhão Handmade”. Há muita coisa boa sendo
feita no Brasil. Aquela parcela do público despida de preconceitos e que gosta
de novidades e inovações aproveitou muito essa parte da feira nessas duas
edições, podendo ver os produtos de perto e conversar com os fabricantes,
esclarecendo dúvidas, falando sobre curiosidades etc. A Music Show, que
também tem os estandes das grandes importadoras de marcas importadas, a área
voltada para negócios, os palcos e eventos musicais paralelos e toda a
estrutura necessária a uma feira desse porte, é um evento que o músico não pode
deixar de ir e que o pequeno fabricante deve tentar ao máximo participar.
Alguma
novidade programada para 2020?
Pedro Wood: 2020 deve ser um
ano de grandes reformulações estruturais na Wood. A grande mudança será o maior
investimento no setor custom shop
para atender àquelas demandas mirabolantes de instrumentos totalmente com a
cara do músico, totalmente fora de série. Estamos firmando algumas novas
parcerias com o intuito de facilitar orçamentos e execuções desse tipo de
instrumento, que por vezes acaba sendo algo bastante complexo dependendo dos
detalhes pedidos pelo músico. Estamos trabalhando também no canal da Wood no
YouTube, que falará bastante de sonoridade e de detalhes estruturais dos
instrumentos quase sempre desconhecidos pelos músicos, além de um site
interativo com consultas automáticas de customização, parcelamento e logística
que esperamos que esteja pronto antes de Setembro. Pretendemos lançar
oficialmente durante a Music Show 2020 o modelo de guitarra Wood Harpia Custom
7, que apesar de ter tido seu protótipo apresentado e testado durante a NAMM
2019 e até de já ter tido unidades vendidas não pôde ser oficialmente lançada
na Music Show 2019.
Considerações finais:
Pedro Wood: O mercado da
música vem mudando bastante com o passar dos anos. Grandes marcas têm cada vez
mais perdido espaço no mercado high end
para pequenos empreendedores. Se empreender no Brasil não fosse tão difícil e
tão caro, talvez os pequenos fabricantes tivessem mais recursos e mais
facilidades de divulgação e comercialização de seus produtos. A iniciativa
pioneira da Music Show em 2018, criando em sua primeira edição o Pavilhão
Handmade e dando oportunidade aos pequenos fabricantes, deu um grande empurrão
na direção de uma mudança no mercado. Há no Brasil vários pequenos fabricantes
de instrumentos musicais elétricos, acústicos, de percussão, partes e peças,
amplificadores, efeitos etc., todos tentando, apesar das muitas dificuldades do
custo Brasil, fazer seus produtos, mostrá-los e comercializá-los. Vale a pena
pesquisar sobre eles, ir vê-los nas feiras, nos sites, nas plataformas digitais
e realmente analisar se esses produtos atenderão às suas demandas mais do que
os produtos importados, eventualmente com custo menor e sempre com atendimento
diferenciado. Podendo, não deixem de visitar a Music Show 2020, de 24 a 27 de
Setembro no São Paulo Expo!
Pedro Wood durante a exposição Music Show. |
CONTATOS WOOD INSTRUMENTOS MUSICAIS LTDA.
A Wood é uma excelente opção no mercado para instrumentos de alta qualidade e nível profissional. Vale a pena o investimento na marca, que é referência no mercado nacional
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