Violão e ukulele: entrevista com o luthier Eduardo Bettu, fundador da Noehands Guitars


Apostando nos acústicos (violões e ukuleles), o luthier Eduardo Bettu fundou a Noehands Guitars em 2015.

Movido pela curiosidade, ele iniciou os trabalhos de maneira despretensiosa, mas hoje, com os anos de prática e pesquisas, além de desenvolver modelos mais tradicionais, ele investe em produtos autorais que primam pela tocabilidade, beleza e excelência sonora.

Os instrumentos são confeccionados à mão por Eduardo em sua oficina localizada na cidade de Luiz Eduardo Magalhães, Bahia. Todos eles utilizam madeiras nobres em sua construção e possuem acabamento diferenciado que acentua o aspecto natural da matéria-prima.

Para conhecer melhor sobre a marca Noehands Guitars, o Guitarras Made In BraSil conversou com o luthier Eduardo Bettu. Ele falou sobre os motivos que o levaram a se interessar pela luteria, surgimento e diferenciais da marca, madeiras que gosta de utilizar em seus projetos e novidades programadas para este ano.   


Por Álvaro Silva

 

Quais motivos levaram você a se interessar pela luteria?

Sempre me interessei em criar coisas. Ainda criança, com menos de 05 anos, desmontava meus carrinhos para usar o motor para construir um barco de brinquedo e outras coisas que minha imaginação permitia. Meu pai tinha um ferro de solda, e eu achava aquilo incrível!

Já aqui na Bahia, depois de chegar de uma jornada na estrada vendendo artesanato, comecei a construção de um instrumento utilizando tudo o que eu tinha à disposição: cano de PVC, madeirite, aglomerados etc. A partir disso, comecei a estudar a construção de instrumentos e acabei me apaixonando por esse universo, pois você precisa saber um pouco de física, química, marcenaria, pintura, clima, ter habilidades manuais...

 

Quando surgiu a Noehands Guitars?

A Noehands surgiu logo em seguida. No começo era apenas um hobby, mas rapidamente comecei a focar meus esforços na luteria e ela foi tomando rapidamente um importante espaço em minha vida.

As pessoas começaram a ver alguns trabalhos de manutenção que eu realizava e me pediam para fazer nos instrumentos musicais delas também. A partir daí fui consertando um e outro, minha cedeu um espaço na lavanderia dela para que eu realizasse meus trabalhos e a clientela foi aumentando. Passei a construir vários ukuleles e violões também.

Conforme as coisas foram caminhando, passei a focar somente na luteria. Contudo, desde o começo a oficina já se chamava Noehands, pois meu apelido é Noé e era conhecido pelos meus trabalhos manuais. O nome é a fusão de Noé com handmades.


Atualmente quais são os produtos e serviços oferecidos aos clientes?

Atualmente construo violões clássicos, violões de aço e ukuleles.

 

Riqueza em detalhes.

O que diferencia os instrumentos Noehands dos concorrentes?

Primeiramente, o tempo de estudo que dedico a cada um deles. Procuro o equilíbrio entre as frequências do tampo, do fundo e do ar que está dentro, também busco um volume equilibrado em toda escala. Uso muito a ciência para fazer instrumentos cada vez mais sonoros e responsivos.

Para conferir melhor tocabilidade, uso um shape irregular – uma espécie de D com diferentes espessuras entre as regiões graves e agudas. Esse detalhe proporciona conforto extremo em vários estilos de pegada, além disso os braços são bem mais finos e resistentes para facilitar a tocabilidade. É claro que tudo depende do gosto do cliente, então procuro trabalhar o braço da melhor forma possível analisando a mão e a pegada dele.

Outro diferencial é o acabamento. Trabalho apenas com goma laca em todo instrumento, isso garante uma sonoridade muito melhor, sem a interferência da camada plástica gerada por vernizes sintéticos. Além disso, ela proporciona um aspecto mais natural. Em instrumentos de alta qualidade um pouco é muito!

Cada instrumento é feito à mão, um a um. Faço todas as partes, menos as ferragens e as cordas. Cada instrumento tem um toque único.

E cada instrumento, cada parte do instrumento é feita a mão uma a uma por mim, a não ser cordas e ferragens, cada instrumento tem um toque único!

 

Quais madeiras você mais gosta de utilizar em seus instrumentos acústicos?

Minha madeira preferida para tampos é o cedro-canadense. Para fundos e laterais, gosto do jacarandá-indiano, mas também gosto de trabalhar com madeiras como acácia, mogno e louro-preto. Quando bem utilizada, cada madeira pode gerar bons resultados.

Já nas travessas e no leque harmônico, o abeto-alemão é essencial. Sem ele você não consegue chegar a um equilíbrio no espectro sem comprometer a resistência do tampo, então é a madeira ideal para essa finalidade.

 

Dentre os modelos que você fabrica, existe algum que você gosta mais? Por qual motivo?

Eu gosto muito do ukulele tenor. Acho ele um instrumento surpreendente. É encantador quando você vê um instrumento tão pequeno gerando tanto som. Recentemente, estou muito empolgado com o meu modelo autoral de violão de aço. Desenhar meus próprios modelos era um objetivo que tinha desde o início das atividades, finalmente, depois de muitos anos de estudo, consegui chegar em um modelo que fez o sangue correr pelas minhas veias com mais intensidade. É muito satisfatório!

Ukulele

 

Algum projeto especial planejado para este ano?

Com certeza! O lançamento do meu modelo autoral, que é um violão de aço com escala de 645mm. No intuito de isolar o tampo do fundo com maior rigidez, ele conta com laterais triplas. Elas absorvem menos vibração do tampo e do fundo, garantindo maior estabilidade na afinação e maior resistência no instrumento ao segurar a tensão que seria aplicada no tampo. Esse detalhe permite construir um instrumento com o tampo ainda mais leve, com mais ataque e sem perda do sustain.

O design é autoral e moderno, o interior tem o design mais clean e braço com sistema de encaixe bolt-on. Para a eventual necessidade de um neck reset no futuro, esse último detalhe será muito importante para fazer os ajustes sem danificar a pintura, pois bastará retirar os parafusos. Outro ponto importante é que a escala tem um apoio até o final, detalhe que evita o empeno dela. 

No momento estou construindo dois violões desse tipo. Eles serão lançados antes do final do ano.


Considerações finais:

Acredito nos avanços dos instrumentos de cordas, assim como o Antônio de Torres acreditou que era sempre possível fazer algo melhor, segui seu conselho e não fiquei estacionado no “feijão com arroz”. Parti para estudos mais aprofundados sobre a física por trás da luteria e sempre procuro resolver os problemas antigos, trazendo resultados melhores.

Acredito que se Torres vivesse nos dias de hoje, ele não estaria fazendo o mesmo violão fabricado há quase 200 anos. Com tantos avanços na ciência, é possível chegar a resultados jamais antes vistos ou ouvidos.

Muito obrigado pela atenção!


Maiores informações no Instagram da Noehands Guitars.


Luthier Eduardo Bettu posando com um violão Noehands.

 

 

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