Conheça a história do luthier Alberto Simetti (AS Luthier e Apsus Guitars)


Há nove anos, o luthier Alberto Simetti (AS Luthier) começou a trilhar os caminhos da profissão através da conjunção de três motivadores: curiosidade, necessidade e admiração. Hoje, com o nome consolidado no mercado, oferece diversos serviços aos clientes, como manutenção, customização e consertos variados em instrumentos de cordas. Utilizando a marca Apsus, constrói guitarras e contrabaixos seguindo alto padrão de qualidade nas escolhas das peças, madeiras e na construção.

Além das tarefas que realiza em sua oficina, encontra tempo para produzir conteúdo para um canal no YouTube repleto de dicas bem legais sobre alguns dos principais serviços realizados no dia a dia em sua oficina. 

Batemos um papo muito interessante com o Alberto a fim de conhecer melhor sobre a trajetória dele na profissão, os serviços que ele realiza, a proposta da marca Apsus, conselhos para quem está começando ou pretende se tornar luthier e muito mais.

Por Álvaro Silva


O que te levou a trilhar o caminho da luthieria? Faz muito tempo?


Alberto Simetti: Uma mistura de curiosidade, admiração e necessidade (nessa ordem mesmo). Antigamente, deixava meu baixo, um Condor BC400, com um luthier que trabalhava perto de casa para realizar um setup geral. Ele realizava o básico, nada demais, e eu ficava curioso sobre como eram feitos os ajustes no instrumento. A admiração era pela oficina, pois sempre gostei muito de ferramentas e trabalhos manuais; a necessidade veio justamente porque o luthier em questão não realizava nada além do básico. Então, eu mesmo comecei a "fuçar" no meu baixo e a pesquisar sobre o trabalho de luthieria, lembrando que na época não existia internet (sim... faz tempinho mesmo). 


Outro fato importante foi a “descoberta” da rua Teodoro Sampaio. Passei a frequentar um pouco mais aquele lugar indo passear com a minha filha. Além de ter muitas lojas de instrumentos musicais, lá também trabalhavam vários luthiers. Eu ficava sempre de olho naquelas oficinas e pensava que um dia poderia trabalhar com aquilo também.


E hoje, aqui estou. Nessa "brincadeira", já se passaram nove anos desde que entrei a fundo nesse ramo.


Quais são os serviços que você oferece atualmente em sua oficina? 


Alberto Simetti: Trabalho com todos os instrumentos de cordas, incluindo os clássicos. Realizo avaliações técnicas, consertos, manutenção, customização, restauração em instrumentos antigos, construção de guitarras e baixos de corpo sólido com braço parafusado.

Marcando as cavidades no corpo de uma guitarra.


Uma curiosidade: qual é o significado do nome da marca Apsus?


Alberto Simetti: Sempre gostei muito de mitologia e, principalmente, de dragões. Quando comecei a procurar um nome para minha marca de instrumentos, fui à procura de um nome expressivo de dragão. Encontrei a estória de Apsu. No mito, a dracena (ou dragã-fêmea) Tiamat, a personificação do oceano, tinha seu consorte mitológico de nome Apsu, considerado como a personificação das águas doces sob a terra. Eles se unem e dão à luz aos diversos deuses mesopotâmicos. A estória segue...Apenas acrescentei a letra "s" no final para ter as inicias do meu nome e sobrenome e para ficar mais "sonoro".


Falando especificamente sobre a fabricação de guitarras e contrabaixos. Existe alguma proposta específica da marca?


Alberto Simetti: Cada instrumento construído por mim possui uma inspiração, por isso são únicos. O primeiro passo no processo criativo é determinar qual instrumento construirei, o segundo passo é a busca da inspiração na mitologia universal. A partir daí o desenvolvimento se inicia. Tipos de madeiras, qual elétrica irei utilizar, cores, e o principal, qual o objetivo final do instrumento. Como exemplo, temos a Nefertari - uma Strato inspirada na rainha egípcia de mesmo nome que era considerada a mais bela e com a voz mais doce de todo o reino egípcio antigo; a Diana, deusa romana da caça, uma guitarra desenvolvida para o hard/heavy metal; Atargatis, deusa síria considerada a primeira sereia, e por aí vai... 


Não gosto de construir réplicas, pois acredito que um instrumento de luthier deve ser único, isto é, ele deve possuir personalidade própria.


Guitarra Apsus


Os instrumentos são todos fabricados artesanalmente ou existe alguma automatização para facilitar o processo?


Alberto Simetti: No início construía tudo. Porém, nunca gostei de construir os braços (e continuo não gostando), então decidi terceirizar esse item. Considero o braço como o elemento mais importante do instrumento pois é aquele que tem papel fundamental no conforto da tocabilidade do instrumento, ele precisa possuir a curvatura/raio posterior correta e bem alinhada. Hoje em dia, quem fabrica os braços pra mim são o Carrozza, o Kaiser e o Franco Guitars Parts. Porém não 100%, faço a instalação dos inlays, trastes e acabamento final de pré-pintura. Mas o corpo sou eu mesmo, é a parte que mais me agrada e dá prazer, nesse caso, é tudo handmade


Resumindo, meus instrumentos possuem 30% de CNC e o restante handmade. Um dia terei uma máquina CNC, só não sei quando.


Atualmente, quanto tempo (estimativa geral) demora para um instrumento ficar pronto?


Alberto Simetti: Normalmente de 6 a 8 meses. Costumo deixar os projetos prontos sempre no final do ano.


Você mantém um canal no YouTube com dicas e curiosidades sobre alguns serviços que você realiza. Como surgiu a ideia de criá-lo e qual é a importância dele na divulgação do seu trabalho? 


Alberto Simetti: Confesso que não tinha a menor pretensão de criar o canal, mas alguns clientes sugeriram, então pensei: vou tentar. Meus primeiros vídeos são bem simples, e hoje, quando os vejo, tenho vontade de deletar. Com o passar do tempo fui criando desenvoltura (falo demais até!) e o conteúdo foi melhorando, acredito eu. 


Meu conhecimento atual sobre luthieria vem da experiência nesse trabalho e dos meus professores/mestres que compartilharam seus conhecimentos comigo. Sei que tenho muita coisa para aprender e que existem muitos outros luthiers com mais experiência do que eu. Não sou dono da verdade absoluta, costumo dizer que até na hora da nossa partida nesse plano estamos aprendendo, pois não sabemos como é.


Já me disseram que estou perdendo dinheiro por passar tantas informações nos meus vídeos, que eu poderia fazer um curso online e vendê-lo etc. Sobre isso, penso o seguinte: todo meu conhecimento atual e futuro me foi e será compartilhado, seria egoísmo da minha parte não fazer o mesmo. Se todos nós tivéssemos esse pensamento, talvez nosso planeta e a humanidade fossem melhores. 


Sobre a importância do meu canal na divulgação do meu trabalho, é inevitável que o fator "mostrar a cara" tem muita responsabilidade pelo aumento expressivo na procura dos meus serviços. Acredito que isso passa credibilidade, mas também confio na qualidade do meu trabalho, modéstia à parte. Enfim, sempre procuro fazer o melhor possível.


Tele Apsus

Como você lida com os haters?


Alberto Simetti: Haters... Às vezes respondo à altura; noutras vezes, deleto a postagem e bloqueio mesmo! Não é à toa que sempre no final dos meus vídeos digo a seguinte frase "(...) deixem seus comentários sempre com respeito e educação, pois é dessa maneira que trato todos vocês aqui. Eu até poderia estar abduzindo alguém, mas estou aqui compartilhando meu conhecimento”. Não tenho muita paciência com haters não.


Alguma novidade programada para este ano?


Alberto Simetti: Sim. Estou preparando um baixo JB, uma guitarra 7 cordas, uma Super Strato HH, uma Tele e uma guitarra com ponte Floyd Rose. Três desses instrumentos possuem inspirações em lendas indígenas nacionais. Tirando isso, não posso dizer mais nada! É segredo.


Você já acumula uma experiência bem legal na profissão. Quais conselhos você daria para quem ainda está começando? 


Alberto Simetti: Pesquisa, pesquisa, pesquisa, estudo, estudo, estudo e mão na massa! Se não colocar a mão não vai aprender o comportamento físico do instrumento e suas características técnicas. Cada instrumento é único - a árvore da qual saiu o maple do braço de um instrumento “x” pode até ser a mesma do braço do instrumento “y”, mas não é o mesmo braço. Portanto, terá sim outro comportamento estrutural, sendo assim, cada instrumento é um aprendizado diferente. 


Respeitem o instrumento e seu proprietário, ambos possuem história. Lembrem-se também de que um ser vivo precisou morrer (a árvore, no caso) para que você pudesse ter seu instrumento e/ou trabalhar em um do seu cliente, tenha sensibilidade com a madeira, pois somos todos orgânicos e possuímos vibrações energéticas que se relacionam. 


Não posso deixar de mencionar o investimento. Sim, esteja preparado financeiramente para gastar dinheiro em ferramentas (todas são caras), principalmente se comprar de fora do Brasil. Não gaste seu dinheiro investindo em ferramentas de baixa qualidade, não adianta ser um bom luthier se a sua ferramenta não te ajuda. Não tenha medo de perguntar a quem tem mais experiência, o "não" você já tem, mas o "sim" é a outra possibilidade e é nela que deve ter confiança. Errou num determinado procedimento? Lembre-se que aquele luthier famoso com 30 ou 40  anos de experiência também errou no início, pois não nasceu sabendo a arte da luthieria. Aprenda com os erros e preserve o conhecimento do acerto.




Acompanhe o trabalho do luthier Alberto Simetti no Facebook, Instagram e YouTube.

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