Bate-Papo Com o luthier Henry Canteri (HC Guitars): Marupá

Olá, pessoal!

O marupá é uma madeira nacional muito utilizada na confecção de corpos para guitarra. É uma madeira leve, fácil de ser encontrada e trabalhada. Apesar dos pontos positivos citados, é muito comum vermos em fóruns de discussões comentários depreciativos sobre ela, em grande maioria, são opiniões proferidas por pessoas que não possuem conhecimento sobre madeiras ou luthieria, sendo que as críticas se baseiam principalmente no fato de que o marupá possui serventias menos nobres e que é utilizado por um fabricante de guitarras que produz instrumentos de baixo custo.
Para esclarecer a questão, conversamos com o luthier Henry Canteri, responsável pela marca HC Guitars. Além de atuar no segmento de construção de guitarras custom made, ele é um profundo conhecedor sobre madeiras e todos os outros pormenores que envolvem a construção de uma guitarra.

No final temos também dois vídeos com amostras da sonoridade das guitarras que ilustram a entrevista. Todas elas fabricadas pelo Henry. As demonstrações foram feitas pelo guitarrista Matheus Canteri.

Fica registrado aqui nossos sinceros agradecimentos ao luthier Henry Canteri pela enriquecedora participação.

*Obs: clique nas fotos para melhor visualização

Vamos ao bate-papo.


Corpo de marupá (Tele HC Guitars)
Guitarras Made In Brasil (GMB) Em termos sonoros, quais as características que o marupá proporciona ao instrumento?

Henry Canteri (HC): O marupá tem um timbre aberto e estalado rico em médios mas também equilibrada pois reproduz bem agudos e graves, não tem muito “sustain”, esta é a conclusão e impressões que cheguei por análise auditiva depois de construir instrumentos em outras madeiras como cedro, mogno e freijó, logicamente com o mesmo modelo e o mesmo set de captadores.


Tele de Marupá HC Guitars
(GMB) Algumas pessoas indicam o marupá para guitarras estilo Telecaster e Stratocaster, que tradicionalmente levam corpo de alder ou ash. Nesses casos o marupá é realmente uma boa indicação?

(HC): Particularmente não tenho dúvida, eu gosto muito de usar marupá em minhas Teles e Stratos, quando busco uma sonoridade mais estalada ou com mais “twang”, se preferir. Durante muito tempo fiquei brigando com meus projetos de captadores para alcançar este twang e estudando as telecasters antigas fui chegando à conclusão que um conjunto leve entra na equação para se alcançar este timbre.

Eu acredito que seja uma alternativa nacional para quem quer aquele som característico e tradicional das Teles e Stratos.

Gostaria de salientar, que tenho algumas peças aqui cortadas em formato de tampo de violões e são extremamente sonoras. Pretendo ainda fazer um projeto acústico com esta madeira.

Já utilizei o marupá para laterais e bloco interno de semi acústica combinado com tampo e fundo de maple, o que deixou o instrumento mais leve e sem prejuízo algum ao timbre.



Strato de marupá HC Guitars
(GMB) É uma madeira fácil de ser trabalhada?

(HC): É muito fácil de ser trabalhada e de dar acabamento, diria que é macia até demais, então um ponto negativo é que é muito fácil aparecerem marcas no instrumento, se assimila muito ao western red cedar usado para tampos de violão e ao basswood e poplar neste sentido. Outro ponto negativo é que não tem muito apelo visual, até hoje não vi marupá figurado.


(GMB) Existe alguma restrição ou algum tipo de cuidado especial ao usar o marupá na fabricação de instrumentos de corpo sólido?

(HC): O marupá está sujeito ao ataque de fungo causador da “mancha azul”, o que não traz nenhum efeito prejudicial estrutural ou de timbre, mas esteticamente altera a cor natural da madeira. Outro ponto é que para tremolos com pivôs, com o uso continuo da alavanca pode acontecer alargamento ao redor das buchas dos pivôs devido a ser uma madeira muito macia, uma solução que eu adoto é fazer um inserto de uma madeira mais resistente, uso geralmente mogno ou pau ferro, na região dos pivôs, quando se combina o marupá com tops de madeiras mais densas não há esta necessidade. Outros cuidados são os que são regra para todas as outras madeiras, escolher madeira de qualidade, com bom corte, devidamente seca e estabilizada.


Strato de marupá HC Guitars
(GMB): É comum vermos em fóruns de discussões sobre luthieria que caixeta é sinônimo de marupá. Isto procede ou são madeiras distintas?

(HC): O marupá tem o nome científico de simaruba amara, enquanto que a caxeta ou caixeta é tabebuia cassinóides, porém o tratamento popular acabou juntando os nomes e em várias regiões o marupá é chamado de caixeta e vice-versa, o que é muito compreensível, pois são realmente muito parecidas tanto nas características físicas como visuais.

Em tempo, entendo que muitas vezes há muito mistério e discussão e uma super valorização sobre efeitos da madeira no timbre do instrumento, particularmente sei que ela tem sua parcela na equação, mas há outros fatores como cuidados na construção , escolha da captação correta, uma parte elétrica bem feita que são tão importantes quanto a escolha da madeira.

Para quem se interessar em aprofundar, e gostar de detalhes técnicos, existem alguns trabalhos feitos pelo ministério da agricultura, pelo laboratório de produtos florestais e também pelo instituto nacional de pesquisas da Amazônia que cruzam informações importantes de características como densidade, velocidade de propagação sonora, freqüência de ressonância e decaimento de várias espécies de madeiras tradicionais e importadas utilizadas na construção de instrumentos com várias espécies de madeiras nacionais estudadas para este fim.


Vídeos Demonstrativos Guitarras Com Corpo de Marupá






Contatos HC Guitars (luthier Henry Canteri)

















Comentários

  1. Parabéns pela entrevista com o Henry. Foi muito esclarecedora e certamente rompeu com este monte de bobagens que são ditas em sites de música e instrumentos "pelos especialistas de coisa nenhuma" que rotulam qualquer coisa pelo seu desconhecimento ou mero preconceito. Parabéns e muito sucesso Álvaro e Henry.

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    1. Muito obrigado pelo comentário. Em breve vou entrevistar alguém sobre o Freijó, que é outra madeira brasileira muito utilizado na fabricação de corpos de guitarra.

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  2. Desculpem ! Esqueci de me identificar: Arq. Luiz Henrique Praia , pretenso guitarrista.

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    1. Sem problemas, Luiz. Obrigado por acompanhar e por participar do blog.
      Abraço.

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