Bate-Papo sobre imbuia com o luthier Marcelo Valédio (Valédio Custom Guitars)

Saudações!

Atendendo ao pedido do leitor Pedro Barbosa, de Boa Vista, Roraima, hoje vamos falar um pouco sobre a imbuia, espécie muito utilizada pelos construtores brasileiros.
Assim como feito em outras oportunidades, convidamos um profissional da área para esclarecer nossas indagações a respeito do assunto em pauta. Desta vez, convidamos o luthier Marcelo Valedio (Valedio Luthieria & Custom Guitars – Guarapuava/PR), que vem utilizando a imbuia em alguns de seus refinados instrumentos.
Ficam registrados aqui nossos sinceros agradecimentos ao Marcelo pela participação. Para quem se interessar em conhecer melhor o trabalho que ele desenvolve, disponibilizamos todos os contatos ao final da entrevista.

**Clique nas fotos para melhor visualização**


Valedio Modern Jazz. Escudo em imbuia
Guitarras Made In BraSil (GMB): Em termos de timbre, quais são as características da imbuia?

Marcelo Valedio (MV): recentemente construí três guitarras utilizando a imbuia. uma sete cordas com top carved de imbuia cerne, uma modern jazz com braço e escala de imbuia figurada e uma RG com braço e escala de canela imbuia. Percebi que, mesmo sendo imbuias, são diferentes (densidade, cor, porosidade).  Na de sete cordas o top equilibrou os graves junto com o cedro; nas outras em que usei para o braço e escala, notei bastante presença de agudos e médios graves, com harmônicos bem definidos. Em minha opinião a imbuia é uma madeira que no quesito timbre possui agudos equilibrados e médios graves.

Escala e braço Valedio Modern Jazz

(GMB): Quais são suas indicações de uso em instrumentos sólidos?

(MV) Acredito a imbuia pode ser usada em qualquer parte do instrumento. Eu já usei em todas as partes: corpo, top, carved top, drop top, braço e escala.


Valedio Nature 7 - top em imbuia
(GMB): A imbuia é uma madeira fácil de ser trabalhada?

(MV): Ela é uma madeira bem dura, é preciso ter cuidado para não lascar e trincar. O cheiro é tão agradável que deveria existir um perfume de imbuia. Uma observação que faço é que as ferramentas e máquinas de corte e usinagem precisam estar com afiação em dia para não prejudicar o acabamento final.


(GMB): A imbuia apresenta boa estabilidade ou necessita de alguma atenção especial?

Top imbuia
(MV): É uma madeira muito estável se estiver com o corte correto e devidamente seca, principalmente para braço e escala. Ultimamente tenho indicado muito para meus clientes, pois esteticamente é muito bonita, tem um timbre particular e o resultado fica excelente. Além de tudo, ainda é fácil de ser encontrada. Aqui no meu estado (Paraná), por exemplo, ainda se encontra em abundância, principalmente peças provenientes de troncos caídos, palanques, vigotes e tábuas de casas antigas. É interessante mencionar, que por muito tempo a imbuia foi desvalorizada, sendo empregada em finalidades poucos nobres; para se ter ideia sua sobra era usada como lenha, um total desperdício.
Infelizmente, tudo no Brasil só é valorizado depois que os gringos utilizam. Existem muitos instrumentos custom shop de marcas importadas que usam madeiras brasileiras. Muitas vezes o músico brasileiro cobiça e até compra esses instrumentos por uma quantia bem elevada. Já tive oportunidade de regular alguns instrumentos de marcas internacionais renomadas que usam a imbuia em sua linha de produção, como um violão Taylor com fundo e lateral de imbuia, um baixo Fodera Emperor com top de imbuia e um baixo Ken Smith também com top de imbuia.
Procuro utilizar ao máximo madeiras nacionais e tento convencer meus clientes dos benefícios em ter um instrumento custom shop fabricado com elas, pois muitas vezes propiciam timbre, tocabilidade e estética únicas ao instrumento. Outro fator importante é o aspecto financeiro, haja vista que em razão do custo, é mais viável economicamente usar madeiras nacionais do que importadas. Recentemente, como pode ser comprovado em minhas últimas construções, tenho valorizado a imbuia.

Valedio Modern Jazz
Valedio Nature 7
(GMB): A imbuia pode ser uma boa substituta ao jacarandá (tendo em vista que o jacarandá é uma espécie de madeira ameaçada, sujeita a regras rigorosas de comercialização)?

(MV): Substituir o jacarandá vai ser difícil, pois a cobiça por ele no mercado ainda é grande. Além do mais, se criou um mito entre músicos e fabricantes que vai ser difícil de apagar. Acredito que a imbuia é uma excelente opção, até porque existe uma variação dentro da espécie, vou descrever os nomes populares que conheço: imbuia-canela-preta, imbuia cerne, imbuia-branca, imbuia-ardida, imbuia-rajada, cada uma com suas propriedades e estética. Enfim, a imbuia é uma madeira que merece atenção e valorização.
Deixo aqui meus agradecimentos para o Álvaro Silva e seu blog, que vêm ajudando e muito na divulgação das marcas custom shop nacionais.

(GMB): Obrigado pela participação! É uma honra poder ajudar, ainda que minimamente, a divulgar trabalhos feitos com seriedade e capricho.





CONTATOS VALEDIO LUTHIERIA & CUSTOM GUITARS







Comentários

  1. Boa tarde amigos. A imbuia poderia ser usada no tampo de uma Les paul com corpo e braço de mogno e tampo de imbuia? Já montou alguma nessa configuração? Desde já agradeço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aqui em Goiania um Luthier fez uma Les Paul para o guitarrista da nossa banda, ficou linda e com um som maravilhoso. Ao invés do top de Maple ele usou a imbua.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Bate-papo sobre freijó com o luthier Henry Canteri (HC Guitars)

Bate-papo sobre louro-preto com o luthier Ariel Frainer (Frainer Custom Guitars)