Bate-papo com o luthier Celso Freire (Dreamer Guitarworks)

           Saudações!

Tem entrevista nova na área. Nesta edição, conversamos com o luthier Celso Freire, responsável pela marca Dreamer Guitarworks, de Campinas/SP, umas das mais antigas e conceituadas custom shop de guitarras/baixos do Brasil. Ao longo de sua trajetória profissional, ele já construiu instrumentos para músicos consagrados no cenário nacional, como: Wander Taffo (Rita Lee, Rádio Táxi, dentre outros), Marcelo Modesto (Chitãozinho & Xororó), Eduardo Ardanuy e Andria Busic (Dr. Sin), dentre outros.
Na entrevista, o Celso contou um pouco sobre sua trajetória, visão de mercado e experiência como expositor convidado na edição 2016 da Holy Grail Guitar Show.  
Ficam registrados aqui nossos sinceros agradecimentos ao luthier Celso Freire pela participação.
Para quem quiser conhecer melhor os trabalhos da Dreamer Guitarworks/Luthier Celso Freire, disponibilizamos os contatos no final da página, logo após a entrevista.


**Clique nas fotos para melhor visualização**

Dreamer NewT-7F Custom HGGS Edition

Guitarras Made In BraSil (GMB): O que o levou a ser luthier?

Celso Freire (CF): A eletrônica era meu hobby desde antes dos 10 anos de idade. Alguns anos depois comecei a tocar baixo e a aplicar meus conhecimentos de eletrônica nos meus instrumentos e equipamentos e também nos dos meus amigos. Um dia resolvi fazer um corpo em Mogno para um baixo que eu tinha e que graças ao corpo leve, pendia para o braço. Comprei a madeira na espessura e pedi para um marceneiro cortar o contorno. Fiz as furações internas que não ficaram como eu queria. Acertei na segunda tentativa após comprar uma tupia e treinar as furações em pedaços de madeira até me sentir seguro para furar diretamente no instrumento tendo como base o desenho previamente feito. Tempos depois, ao procurar um lugar para pintar o baixo, acabei conhecendo a Spanich e em pouco tempo passei a trabalhar lá. Daí pra frente passei a respirar luthieria.


Dreamer NewT Classic
(GMB) Você começou a construir guitarras no final da década de 80. O que mudou no mercado brasileiro de lá pra cá?

(CF): A noção do que é bom e do que é ruim, (embora hoje em dia alguns ainda tenham a mesma noção daquela época). O acesso a peças de qualidade, tanto importadas quanto nacionais. No final dos anos 80 dependíamos de muambeiros ou tínhamos que buscar as peças pessoalmente em outros países.



Dreamer HB-5 Fretless Headless Bass
(GMB) Qual é a proposta Dreamer Guitarworks?  O que você considera como seu grande diferencial em relação às outras marcas do segmento custom shop?

(CF): Desenvolver modelos exclusivos de guitarras e baixos e construí-los em quantidade limitada e com o máximo de atenção à qualidade e aos detalhes para que sejam vendidos no Brasil e no exterior para pessoas de bom gosto que estejam dispostas a pagar o preço que valem.


(GMB) Você foi um dos primeiros a utilizar trastes inox no Brasil. Quais são os benefícios de se utilizá-los em detrimento dos trastes comuns?

(CF): Só há benefícios. Maior durabilidade dos trastes e das cordas. Maior facilidade nos bends. Estão sempre brilhando, etc. Desvantagem leva quem não sabe ou não consegue fazer o serviço decentemente. Esses saem por aí criticando e inventando teorias baseadas em lendas e achismos.


Dreamer T-Pro
(GMB) Em seus trabalhos você faz questão de destacar em fotos de vários ângulos todos os detalhes do instrumento, seja a colocação dos trastes, o alinhamento das marcações da escala, pintura, etc. De outra sorte, é muito comum observarmos alguns erros grosseiros em alguns trabalhos feitos por outros “profissionais”, orgulhosamente postados e festejados em redes sociais, sendo a pior parte, o fato de que muitas vezes eles empurram instrumentos com essas imperfeições para seus clientes e são extremamente intolerantes a críticas.  O que você pensa sobre isso?  

(CF): Um grande problema na luthieria brasileira é a falta de referência dos clientes. Muitos não sabem o que é bom ou ruim. Costumo dizer que, para o brasileiro comum, numa escala entre 0 e 10, acima de 3 tudo é 10. Elogiam qualquer coisa que imaginem ser de qualidade, muitas vezes passando longe da realidade. Eu penso que tirando boas fotos eu possa mostrar o verdadeiro mundo da qualidade e talvez um dia mudar esse paradigma.
As fotos também servem para mostrar que o meu trabalho é diferenciado e de alto padrão. Isso é incômodo para muitos concorrentes, pois são raros os que conseguem chegar perto.

Dreamer NewT Custom LWC

(GMB) Um assunto muito polêmico é a influência da madeira no timbre do instrumento. Qual é a sua opinião sobre o assunto?

(CF): Claro que influencia, mas menos do que as pessoas pensam. É comum pensarem que o elemento mais importante no timbre da guitarra é a madeira, mas isso é um erro. O timbre da guitarra vem principalmente da combinação do comprimento da escala, do posicionamento e tipo dos captadores. As madeiras filtram frequências e afetam no ataque sonoro.


Dreamer ST1 #090002
(GMB) Em muitos dos seus trabalhos, você utiliza madeiras brasileiras como matéria-prima. Quais delas você recomenda?

(CF): Posso listar várias madeiras nacionais que gosto e utilizo ou já utilizei, como por exemplo, Cedro Rosa, Imbuia, Pau Ferro, Tauarí, Roxinho, Jacarandá, Freijó, entre outras, mas o foco deve ser na qualidade das peças de madeira escolhidas e principalmente na qualidade da construção. É essencial a escolha de madeiras de qualidade, mas quem define a qualidade final do instrumento é o luthier.

(GMB) Ano passado você foi convidado a expor seu trabalho na conceituada exposição Holy Grail Guitar Show, que aconteceu em Berlin, na Alemanha. Como foi esta experiência? Qual é a importância de interagir com outros profissionais renomados de outros países?

Dreamer Guitarworks na Holy Grail Guitar Show 2016.
(CF): O que primeiro me impressionou foi a receptividade. Me senti imediatamente em casa. Respeitado. De igual para igual. Valorizado pelos outros luthiers e pelas pessoas que passaram pela minha mesa e testaram meus instrumentos. O mais incrível foi ouvir de luthiers conceituados que eu estava cobrando pouco pela qualidade oferecida. Algo inimaginável no Brasil, onde o desrespeito é padrão. Para muitas pessoas no Brasil, luthier é o quebra galho que vai fazer a guitarra provisória dos seus sonhos pela metade do preço. Como nunca fiz isso, várias vezes fui taxado de careiro e esnobe. Felizmente, pelo fato de eu ter uma produção limitadíssima, acabo encontrando clientes que respeitam e voltam para fazer um segundo ou até terceiro instrumento.

Luthier Celso Freire

Contatos Dreamer Guitarworks/Luthier Celso Freire



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