Bate-papo com o luthier João Gravina (Gravina Guitars)

Saudações, prezados leitores!

No bate-papo da vez, entrevistamos o luthier e músico João Gravina, responsável pela marca Gravina Guitars, sediada na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Atuante no mercado desde 1987, seus trabalhos chamam atenção por não serem meras réplicas de instrumentos de marcas consagradas, suas guitarras e contrabaixos apresentam desenhos exclusivos, materiais selecionados com critério e riqueza em detalhes.

Registramos aqui nossos sinceros agradecimentos ao luthier João Gravina pela participação.

* Todas as fotos foram retiradas da página da Gravina Guitars.

* Para melhor visualização das fotos, basta clicar sobre elas

Gravina Voyager7 Cordas

 
Como você aprendeu a profissão de luthier?

João Gravina: Fui autodidata. Tudo começou em 1966, quando eu tinha oito anos de idade e fiquei maravilhado com os instrumentos usados pelos Beatles e pelo pessoal da Jovem Guarda. Naquela época eu decidi o que queria fazer na vida, mas é claro que a estrada não foi reta e simples. O fato é que no meio das derrapadas da sorte, em 1977, acabei conhecendo a revista americana Guitar Player, sendo que lá eu descobri que nem todos os instrumentos musicais eram fabricados em enormes indústrias, mas também por uns artesãos obstinados chamados LUTHIERS.
Dez anos depois, em 1987, eu me tornei um deles, depois de ler muito e praticar nos baixos e guitarras que vinham parar nas minhas mãos.

Gravina Saturno

Quais são as principais dificuldades experimentadas na profissão?

João Gravina: Costumo dizer que, infelizmente, o principal inimigo dos luthiers brasileiros é o complexo de vira-lata dos músicos de nosso país.
É extremamente difícil obter respeito e reconhecimento de quem sonha com os pretensos tesouros importados e torce o nariz para o que se faz por aqui. Fico triste e decepcionado quando leio comentários do tipo: “imagine, o luthier fulano quer cobrar o mesmo preço de uma guitarra Fender”.
Quem não acompanha o nosso trabalho não imagina a tolice que está dizendo ao comparar um produto feito a mão com um fabricado aos milhares numa corporação milionária.


Como é o processo de fabricação dos seus instrumentos? Eles são feitos totalmente à mão ou você usa CNC em algumas etapas?

João Gravina: Quase totalmente artesanal. Alguns detalhes como escudos e logotipos são feitos em nossa modesta CNC.

Baixo Gravina Body & Soul

Um instrumento customizado possibilita ao cliente a escolha de vários detalhes que um instrumento feito em série não permite. Você já recebeu algum pedido extravagante?

João Gravina: Já recebi diversos, sendo que alguns eu preferi não aceitar, que era pra não enlouquecer (risos).
Um dos mais inusitados que eu topei fazer foi em 1993. Era um de dois braços, sendo uma guitarra e um baixo de cinco cordas. O baixo tinha doze trastes e o resto do braço era fretless. Pra piorar, cada um dos quatro captadores do instrumento possuía um circuito pré-amplificador individual. Uma loucura!


Um assunto muito polêmico é a influência da madeira no timbre do instrumento. Algumas pessoas dizem que influencia, outros dizem que não. Qual é a sua opinião sobre o assunto?


João Gravina: O fato é que tudo influencia de alguma forma, inclusive as madeiras. Entretanto, essa influência é limitada e jamais chega ao nível que os caras afirmam. A captação é mais importante, por exemplo. O som específico de uma determinada espécie de madeira é mil vezes mais importante em instrumentos de corpo oco, os acústicos como violões, cavaquinhos, bandolins etc.
Quem começou com esse mito de timbre muito diferente em cada espécie de madeira nos instrumentos maciços, foi um conhecido luthier norte-americano dos anos 80 que ficou célebre por seus baixos exóticos. Ele acabou convencendo muita gente com sua conversa e fez escola entre os brasileiros crédulos, por exemplo. Dizem que a fé move montanhas...


Double neck Il Capo
Em muitos dos seus trabalhos, você utiliza madeiras brasileiras como matéria-prima. Quais delas você recomenda?

João Gravina: Recomendo todas. Madeiras ainda são a principal matéria-prima para baixos e guitarras, apesar de muitas experiências já terem provado que há inúmeros bons substitutos. Mas a sociedade é muito tradicionalista e os paradigmas demoram para ser mudados.
Só que as madeiras acabam entrando em processo de extinção por causa da extração desenfreada.
O mais importante é não se bitolar no que virou padrão por pura preguiça de pesquisar. Um exemplo é o freijó, uma madeira usada praticamente só para corpos, mas que fornece ótimos braços também. Basta você olhar para a indústria naval e descobrirá que o freijó é excelente para a construção de mastros das embarcações, devido ao seu peso reduzido e sua extrema resistência à tração. Os exemplos são muitos.

Baixo Gravina Signature

Nos últimos anos a profissão de luthier vem crescendo no mercado, com muitas pessoas dando os primeiros passos na profissão. Você tem alguma dica/conselho para dar para elas? 

João Gravina: Jamais duvidem de si mesmos. Não tentem ser iguais a ninguém, deem chance aos seus sonhos, às suas descobertas. Vivemos atualmente em um mundo musical muito teleguiado, onde os baixistas e guitarristas só se permitem almejar três ou quatro modelos universais que todo mundo usa.
Ousem! Busquem alternativas! Não se intimidem com a opinião do inconsciente coletivo.
E mais! Tenham em mente que o seu melhor instrumento ainda está por vir.

Guitarra Gravina Saturno e Baixo Marte 


CONTATOS LUTHIER JOÃO GRAVINA (GRAVINA GUITARS)









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