Bate-Papo Com o Luthier Mateus Canalli (Canalli Guitars)

Por: Álvaro Silva (ahfsilva@gmail.com)

Nesta edição da seção Bate-papo, conversamos com o luthier Mateus Canalli, responsável pela construção e desenvolvimento das belas guitarras e contrabaixos custom shop da marca Canalli Guitars, empresa sediada em Marau, Rio Grande do Sul. Também atuou como guitarrista em diversos projetos, inclusive tocando com a lendária banda de rock Made In Brazil.

Durante a conversa, ele nos contou um pouco sobre como surgiu seu interesse em luteria, os diferenciais presentes nos instrumentos que fabrica, alguns aspectos sobre madeiras e sobre sua verve “blueseira” na guitarra.

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Luthier Mateus Canalli em ação

Como surgiu o interesse de trabalhar com luteria?

Mateus Canalli: Sempre fui meio "professor pardal", e instrumentos musicais me chamam a atenção desde criança. Recordo de ter comprado meu primeiro instrumento novo na adolescência, um baixo Giannini Stratosonic, e a primeira coisa que fiz foi desmontá-lo e lixá-lo todo, acredito que aí surgiu tudo isso. No entanto, as oportunidades de fazer disso minha profissão, vieram com a minha mudança para Marau/RS (2013), talvez tardia, mas considero que todo o período que antecedeu a este acontecido serviu para me preparar, quando trabalhei com tornearia, ajustagem, desenho técnico, projetista de estruturas metálicas, restaurador de carros e músico. Hoje vejo que cada uma dessas ocupações me servem com muita utilidade na oficina de luthieria.

Canalli Guitarras P-Style

Quais são os diferenciais dos instrumentos Canalli Guitars?

Mateus Canalli: Acredito que o atendimento em relação ao que o cliente necessita e não ao que eu necessito, esteja em posição de destaque. A ambição financeira não faz parte do meu "modus operandi", com isso, cada instrumento é único e contém grande parte dos sonhos que o cliente idealizou durante um período. Minha carreira como projetista também traz um diferencial considerável na hora de desenvolver um projeto inédito, pois trabalhar com cálculos matemáticos, proporções, geometria e resistência dos materiais, fizeram parte de muitos anos de minha vida. Por fim, a pesquisa incessante neste universo de madeiras maravilhosas que é o Brasil tem sido minha marca registrada. Todo trabalho honesto e bem feito traz os resultados que o profissional necessita para seguir em frente, e faz um bem danado!

Algumas pessoas em fóruns sobre guitarras e instrumentos musicais disseminam a afirmação polêmica de que a madeira não influi no timbre da guitarra. Esta afirmação é uma verdade ou um mito?

Mateus Canalli: Esta é uma questão um tanto delicada, e não quero aqui lançar o anátema sobre qualquer opinião. No entanto, há de se considerar que cada ser humano possui características e necessidades diferentes, bem como aptidões e sensibilidades muito diversificadas, desde as mais apuradas até as quase nulas. Considerando isso, é natural encontrarmos quem considere a afirmação um mito e também o oposto. Toda percepção carece de estudo, desenvolvimento e prática.

Canalli Guitars S-Style

Quais são os aspectos que devemos considerar para identificar uma boa madeira para ser utilizada na confecção de instrumentos musicais?

Mateus Canalli: "É uma receita de bolo" como diz meu amigo Rodrigo Ramme, porém podemos dividir em alguns aspectos de acordo com cada parte do instrumento. Naturalmente o braço, que na minha opinião é a parte mais importante de um instrumento sólido, em primeiro lugar vem a estabilidade e resistência a flexão. No corpo, estabilidade e aspecto. Nos tops, o aspecto. O grande desafio é aliar tudo isso à estética, características sonoras e peso físico, oferecendo um resultado final bonito e eficiente.

Canalli Guitars

Quais são as espécies de madeiras brasileiras ou estrangeiras que você mais gosta de utilizar na confecção de seus instrumentos? Por quê?

Mateus Canalli: Gosto muito da araucária, pela estabilidade e características sonoras e ter densidade média, uso tanto no corpo quanto no braço. Vale ressaltar que dependendo do corte, da parte da árvore que foi retirada a peça e da região em que ela cresceu, podemos obter resultados muito diferentes. Gosto também da grápia para o braço pela estabilidade, coloração amarelada e timbre "quente". Temos muitas outras madeiras brasileiras excelentes como o cinamomo, o cedro, o açoita cavalo, a guajuvira, a cabreúva etc. Mas confesso que essas são minhas "queridinhas". Das estrangeiras, o que mais me atrai são as figurações que o maple oferece.

Canalli Guitars T-Style

Além de ser luthier, notei que você é um “blueseiro” de mão cheia. Quais são seus guitarristas prediletos dentro do estilo?

Mateus Canalli: É você quem está dizendo (rsrsrsrsrs).

Não necessariamente nesta ordem, mas os que mais gosto são: BB King, Eric Clapton, Robert Johnson, Albert Collins, Robert Cray, Stevie Ray Vaughan, Joe Bonamassa, Derek Trucks, Marcos Ottaviano... É, acho que já está bom. (rsrsrsrs)

Como foi a experiência de tocar guitarra com a lendária banda paulista Made In Brazil?

Mateus Canalli: Foi uma experiência muito válida e positiva, conheci muita gente do meio, lugares e situações inusitados, além de ouvir muitas histórias do Kim e do Oswaldo. Confesso que também ajudou muito na minha exposição neste mundo.

Canalli Headless

Considerações finais:

Matheus Canalli: Muito obrigado pela oportunidade de expor as minhas ideias e experiências, e gostaria de salientar que as diferenças é que nos fazem, como um todo, atingir os melhores resultados. Grande abraço a todos!