Conheça o trabalho da Kuumba.Wa, marca curitibana que produz guitarras e contrabaixos artesanais com design exclusivo

Luthier Seithy Handa.


Surgida a partir da visão do jovem luthier Seithy Handa, a Kuumba.Wa, marca curitibana que fabrica guitarras e contrabaixos, vem se destacando no mercado pelo desenvolvimento de instrumentos com design exclusivo produzidos artesanalmente. 

Além da estética singular, outros diferenciais marcantes são o atendimento personalizado, a criteriosa seleção das madeiras e os insumos empregados na construção dos instrumentos, a maioria deles fabricados pelo próprio luthier em seu ateliê.

Atualmente a empresa trabalha não trabalha com réplicas e disponibiliza ao público cinco modelos originais, que podem ser personalizados a partir de variáveis oferecidas pelo próprio luthier ou de diálogo com o cliente.

Para conhecer melhor a proposta e a história da Kuumba.Wa, conversamos com o Seithy. Ele nos contou sobre os motivos que o levaram a se tornar luthier, o significado da marca, deu alguns detalhes sobre o design dos instrumentos e muito mais.

 

Por Álvaro Silva

 

Quando você decidiu ser luthier? O que mais te atraiu na profissão?

As guitarras existentes não me satisfaziam, principalmente sob o aspecto visual. Interessado pelo assunto, passei uns cinco anos pesquisando muito sobre guitarras, principalmente aquelas produzidas no Brasil durante as décadas de 60 e 70. Eu sempre gostei de realizar trabalhos manuais e de fazer as coisas acontecerem, mas percebi que necessitava de um conhecimento mais profundo para começar a fazer as coisas adequadamente. Foi então que descobri o curso de luteria oferecido pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Analisei a grade do curso e conclui que fazê-lo seria um caminho “mais fácil” para se chegar aonde eu queria. Após iniciar o curso, tive a certeza de que gostaria de seguir na área.

 

Qual é o significado do nome da marca?

O nome da marca surgiu num sonho. Aliás, era uma coisa que vinha me atormentando constantemente. Gostei do nome e optei por usá-lo, ele tem um lado espiritual que remete a minha ancestralidade. Acho que é um nome bonito que também tem um pouco haver com o lado da criatividade.



O design das guitarras Kuumba.Wa são bastante singulares. Existe algum conceito ou alguma inspiração por trás dele? Atualmente você trabalha com quantos modelos?

Faço muitos testes e protótipos antes de lançar os modelos que fabrico. A KS-I, por exemplo, foi inspirada na craviola, um conhecido modelo fabricado pelo Gianninni, mas que foi criado pelo Paulinho Nogueira. Segui essa direção, mas sem a intenção de replicar o que foi feito, a propósito, eu tenho muita afinidade para criar um design “mais geométrico”, isto é, aquela coisa baseada no começo da tecnologia 3D, com poucos contornos arredondados.

As inspirações são muito diversas porque cada instrumento tem um caminho diferente. Aliás, estou com um projeto novo para anunciar que foi desenvolvido com o Siba. É um modelo bem exclusivo, criado através de uma parceria mesmo. Ele me pediu um instrumento headless e pequeno, seguindo a proposta da Steinberg. Essa pegada mais moderna é um universo bem distante do que eu costumo fazer, mas entrei de cabeça no projeto e o resultado ficou bem legal, pois consegui manter o aspecto geométrico presente nos meus designs.

Atualmente estou trabalhando com cinco modelos de linha, mas também gosto de focar em projetos pessoais, harmonizar diferentes colorações, criar as coisas do zero e aplicar meus conceitos num instrumento idealizado pelos clientes.



Você fabrica outros instrumentos além de guitarras?

Atualmente eu não fabrico outros instrumentos além dos cordofones elétricos, mas pretendo construir instrumentos acústicos no futuro. Tenho os projetos, mas ainda não tenho um espaço físico adequado para isso. Como também gosto muito dessa parte, que envolve analisar as madeiras, a composição do leque harmônico e outros detalhes, com certeza em algum momento irá rolar.

 

Como é o processo de fabricação dos instrumentos? É verdade que você produz quase todas as peças que são utilizadas?

Trabalho sozinho e os processos são praticamente todos manuais. É um caminho que optei por seguir: buscar novas soluções para se chegar em algo diferenciado. Afinal, se você quiser, por exemplo, um instrumento da Fender ou da Gibson, qualquer luthier pode fazer igual utilizando os mesmos materiais que elas utilizam. Desde o início optei por seguir um outro caminho e fugir do mercado saturado das réplicas.

A única coisa que eu não produzo por aqui, em razão da inviabilidade, são as tarraxas, os trastes, as cordas e alguns componentes da parte elétrica (potenciômetros, chave seletora, jack e capacitores).

 

Além do design exclusivo, quais outros diferenciais você destacaria nos instrumentos que você fabrica?

Os meus diferenciais são instrumentos feitos praticamente inteiros à mão, exclusividade, o atendimento personalizado ao cliente, o rigor na escolha das madeiras que serão utilizadas e a possibilidade que eu tenho de testar as diversas variáveis do instrumento para se chegar num resultado diferenciado.

As guitarras Kuumba.Wa soam muito peculiares, elas não soam como uma Fender ou outra marca, pois elas possuem características próprias e foram concebidas para isso. Enfim, a ideia central é criar um produto diferenciado com personalidade própria.


Falando sobre as madeiras utilizadas, você segue um padrão que te agrada ou você gosta de realizar experiências?

Eu sempre tento buscar alternativas para o que eu faço, pois a madeira é uma questão muito complexa. Eu tenho usado cedro-rosa para o braço e marupá para o corpo, uma combinação bem padrão aqui no Brasil. Também gosto de usar o marfim para fazer instrumentos com escala clara, mas estou migrando para o maple em virtude de alguns resultados estranhos que eu tenho obtido em alguns testes. Outra madeira que eu gosto de usar é a imbuia para escalas - uma madeira pouco utilizada para essa finalidade por aqui, mas que no exterior já vem sendo bastante utilizada.

As madeiras possuem muitas especifidades, mesmo quando provenientes da mesma árvore. Além da região em que são extraídas, ainda tem a questão da direção da fibra, se é radial ou tangencial... Tudo isso conta bastante no que tange à resistência e flexibilidade.

De vezem quando, tento experimentar algumas madeiras diferentes, mas não tenho o tempo que gostaria para fazer isso. Também tenho vontade de experimentar outros materiais que não sejam tão agressivos ao meio ambiente.



 

O que o cliente pode customizar nos modelos?

Os meus instrumentos possuem um certo limite de até onde o cliente pode customizar, mas é possível negociar alguns aspectos. Os modelos de entrada (KM-I e KM-2) são instrumentos mais simples em termos de processos. Dentro de um valor pré-estabelecido, geralmente eu apresento ao cliente um catálogo com opções de peças que produzo, também é possível utilizar alguma cor específica ou um tema gráfico. Entretanto, tudo tem um certo limite. Só pra exemplificar, eu não vou pintar uma suástica nazista ou colocar o rosto do Hitler numa guitarra, né?

 

Alguma novidade programada para este ano?

Talvez eu lance uma guitarra de doze cordas e um contrabaixo no modelo KM-I, tem o projeto desenvolvido para o Siba e estou desenvolvendo um soft case para ir junto com os instrumentos. Devo revelar mais alguns detalhes sobre ele em breve.

Estou aberto aos projetos novos e preparado para atender aos clientes que desejam um instrumento único e de qualidade.



Maiores informações no Facebook e Instagram da Kuumba.Wa.

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