Bate-papo com o luthier Alexandre Carrozza (Carrozza Custom Guitars)
Olá,
pessoal!
Nesta
edição, conversamos com o luthier e proprietário da Carrozza Custom Guitars,
Alexandre Carrozza, oficina localizada na cidade de Jaú, São Paulo. Ele
desenvolve um trabalho bem legal utilizando máquinas CNC (Comando Numérico Computadorizado)
no corte e modelagem dos corpos e braços dos instrumentos musicais que levam a
sua marca, fato que não elimina completamente o trabalho manual e artesanal do
processo de fabricação, pois para a elaboração dos comandos da máquina,
realização de acabamento fino (lixamentos), pintura, montagem e demais ajustes,
são indispensáveis o toque e o ouvido do luthier. Além de explicar um pouco
sobre o processo de produção automatizado, ele nos contou um pouco de sua
trajetória profissional, do belíssimo modelo de guitarra Stella e sobre sua
visão de mercado para guitarras custom.
Registramos
nossos agradecimentos ao Alexandre, que prontamente atendeu nosso convite para a
entrevista.
* Obs: Clique nas fotos para obter melhor visualização.
* Obs: Clique nas fotos para obter melhor visualização.
Guitarras Made In BraSil (GMB): Como
começou a Carrozza Custom Shop? Você já atuava profissionalmente no segmento?
Carrozza STX Flamed Maple Top |
Apesar
dessa tentativa frustrada, não desisti. Com a intenção de aprender, continuei a
mexer nas guitarras, sendo que em 1992 comecei a realizar pequenos consertos em
guitarras de amigos. Em consequência disso, os serviços foram aumentando, já
que aqui no interior de São Paulo, não existia ninguém que trabalhava nessa
área. Lembro também que na época era muito difícil obter acesso a informações
sobre luthieria.
Em 2005, conheci
o Roberto Santana (N Zaganin), que me incentivou a melhorar as minhas
habilidades na arte da luthieria. Falando nisso, me recordo que em 2007 eu
estava trocando a ponte da guitarra de um amigo e o corpo quebrou ao meio! Não
tive dúvidas, fui falar com o Roberto. Chegando lá, pelo fato de ter uma
marcenaria de primeira na família - meu Pai é marceneiro há 50 anos - ele me
intimou a fazer um novo corpo. Como eu nunca havia feito algo parecido, resolvi
tentar a sorte. Comprei algumas máquinas que estavam faltando e comecei as
atividades.
No final de
2008 terminei minha primeira guitarra. Cheguei a concluir uns 70 instrumentos utilizando
tupias superiores, inferiores, serras de fita, dentre outras máquinas de
marcenaria. Como sempre fui fascinado pela tecnologia e sou perfeccionista, em
2009 conheci e adquiri uma máquina CNC (Comando Numérico Computadorizado), e aí a
coisa ficou chique! Com a chegada da CNC migrei grande parte das etapas da produção
para esse sistema.
(GMB): Acompanho o trabalho de
alguns profissionais pela internet, e percebo que a maioria das encomendas são
réplicas de guitarras fabricadas por marcas renomadas e/ou utilizadas por
artistas famosos. Tendo em vista esse fato, compensa investir no
desenvolvimento de produtos com características próprias?
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Carrozza LPX |
Em minha opinião, compensa sim investir e criar, pois cada Strato que é feita no mundo, por mais que o luthier mude o headstock, a marca que será lembrada sempre será a da criadora, no caso, a Fender.
Nós temos
vários modelos que são criações inteiramente nossas e nos orgulhamos por isso.
(GMB): Você é um dos poucos
profissionais que desenvolvem no Brasil um trabalho “custom shop” utilizando
máquinas CNC (Comando Numérico Computadorizado). Quais são as vantagens desse
processo produtivo?
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Carrozza STX |
As
vantagens na utilização da CNC são muitas, como: economia das madeiras, eu
perdia muitas peças quando usava máquinas pesadas e também não conseguia
garantir uma precisão nos encaixes; ganho no tempo de produção, pois enquanto a
máquina executa um projeto, você pode começar realizar outras tarefas; você tem
mais segurança ao realizar as atividades; se a máquina for de boa qualidade, a
sua precisão aumenta muito e os recursos são ilimitados, costumo dizer que o
limite está no programador dos percursos da ferramenta;
Posso citar
também uma atividade difícil de ser executada sem a utilização da CNC, que é a
elaboração de uma escala com raio composto. Todas que eu vi até hoje feitas sem
a utilização da CNC não são de raios compostos, mas sim dois raios que o
luthier consegue alinhar com lixas, o que não é uma escala composta. Ela
somente pode ser feita utilizando a CNC, executando cálculos matemáticos nos
eixos XYZ.
Outra
coisa importante, você pode fazer os shapes dos
corpos e braços 100% idênticos, coisa que é bem difícil no sistema manual ou de
maquinário pesado, e alinhar todas as partes da guitarra com cálculos e
perspectivas usando softwares específicos, e não régua, lápis e papel (nada
contra, pois já fiz muito isso).
(AC): Não
vejo nenhuma desvantagem na fabricação de instrumentos top de linha, porém se você
for fazer instrumentos de extremo baixo custo (como esses que são feitos na China
e vem para o Brasil para o fabricante colocar seu logo) não compensa, devido ao
custo e velocidade de produção no CNC. No entanto, os modelos mais caros dessas mesmas
marcas com certeza utilizam algumas operações feitas em CNC.
(GMB): Um modelo que você fabrica
que me chamou muito a atenção, principalmente pelo design, foi a guitarra
Stella. Conte-nos um pouco sobre as características/especificações dela.
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Carrozza Stella |
A Stella
tem as seguintes características: corpo em Mogno; top em Maple ou Eucaliptus
King; braço em 5 peças, sendo Mogno com longarinas em Jacarandá e escala em Ébano
ou Jacarandá; captadores EMG, (5766 ou 81x ou 85x); ponte Floyd Rose
tradicional ou Floyd Rose non fine tuner;
tarraxas Gotoh ou Grover; escala com 635mm e 22 trastes. É uma guitarra muito confortável e versátil. Vale a pena comprovar!
(GMB): Você já participou como
expositor na NAMM, importante feira de instrumentos musicais que acontece na
cidade de Anaheim, no estado da Califórnia, Estados Unidos. Como você vê o
mercado brasileiro para guitarras custom em termos de qualidade e rentabilidade
do negócio?
O mercado
brasileiro vem crescendo, porém faltam incentivos fiscais
e tecnológicos. Temos profissionais de alto gabarito no Brasil e não devemos nada
para ninguém. Entretanto, o próprio brasileiro não acredita em “santo de casa”,
por isso acho que leva tempo ainda para o negócio se tornar mais rentável e
estável.
CONTATOS CARROZZA CUSTOM GUITARS
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