Bate-papo com o Rafael Romano (Music Kolor)

Olá, pessoal!

Na seção Bate-Papo da vez, o assunto é pintura de guitarras. Para falar sobre esse tema, entrevistamos o diretor da Music Kolor, Rafael Romano, empresa especializada em pintura de instrumentos musicais que vem se destacando no mercado nacional por oferecer diversos tipos de pinturas (cores metálicas, sólidas, translúcidas, reprodução de pinturas famosas, publicitárias, dentre outras) e alternativas para customização. Em pauta, um pouco da história da Music Kolor e alguns assuntos “polêmicos” sobre pintura frequentemente debatidos em fóruns de discussão sobre guitarras.
Registrado aqui nossos cordiais agradecimentos ao Rafael Romano e equipe Music Kolor.
               

Pintura Vintage Blonde Relic
Guitarras Made In BraSil (GMB): Vocês foram pioneiros em oferecer serviços profissionais de pintura em instrumentos musicais no Brasil. Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas no início?

Rafael Romano (RR): No início a maior dificuldade foi a divulgação deste tipo de trabalho. Muitas pessoas não conheciam e, é claro, ganhar a confiança deste público tão exigente foi muito trabalhoso, e até hoje continua sendo. Por esse motivo, estamos aprimorando cada vez mais nossa estrutura e também contamos com depoimentos de renomados profissionais que utilizam nossos serviços, o que contribui muito para ganhar a confiança dos novos clientes.
Outra dificuldade apresentada, diz respeito à obtenção de informações sobre processos de pintura e materiais a serem utilizados.  Ao contrário do que ocorre hoje em dia, elas não eram encontradas facilmente na internet, seja em textos ou vídeos. Então, os testes foram a única forma de descobrir e definir nossos processos de hoje.


(GMB): Além da pintura de instrumentos musicais, quais são os outros tipos de serviços oferecidos pela Music Kolor?

Pinturas translúcidas com burst
(RR): A Music Kolor é unicamente responsável pela pintura de instrumentos musicais, é o único serviço que oferecemos. Recentemente, iniciamos a MK Custom Shop, que fabrica instrumentos, corpos e braços avulsos com pintura feita pela Music Kolor, além de todo serviço de customização e manutenção de instrumentos musicais. Essa é a diferença, ou seja, são empresas diferentes, sites diferentes e especialistas diferentes que trabalham em cada área.


(GMB) Até agora, qual foi o trabalho mais inusitado que vocês já realizaram em termos de customização? 

Baixo Jack Daniels
(RR): É difícil escolher apenas um. Já fizemos guitarra para pedido de casamento, pinturas com fotos de namorada ou filhos, já pediram até pra colocar o próprio sangue em uma pintura Swirl! Um dos mais legais foi a pintura da Garrafa de uísque que fizemos para a Excelsior Guitars e uma guitarra exclusiva que fizemos para a Revista Rolling Stone. Gostamos muito de projetos exclusivos, pois todo mundo tem uma bela história pra contar; pode ter certeza que um instrumento musical carrega mais história do que você pode imaginar.
Uma situação curiosa foi de um luthier do Japão que solicitou 2 pinturas da Fender Monterey aqui na Music Kolor, o que rendeu até notícia na seção Empreendedorismo, do portal UOL (http://economia.uol.com.br/empreendedorismo/noticias/redacao/2014/09/29/roqueiro-replica-pintura-de-guitarra-vende-para-o-japao-e-fatura-r-25-mil.htm).


(GMB): Nos fóruns de discussão sobre guitarras, vemos muitas pessoas comentando acerca das diferenças entre as pinturas com base de poliéster, uretano e nitrocelulose. Você poderia nos contar um pouco sobre as diferenças entre esses tipos de pintura? Quais são os prós e os contras de cada uma delas?

Pintura translúcida Les Paul Peruzzo
(RR): O que muda nestes tipos de pintura são as resinas utilizadas. Existem materiais a base de resina poliéster, resina poliuretana e resina nitrocelulose. Antigamente, fábricas como a Fender utilizavam tintas e vernizes a base de nitrocelulose. Os materiais a base de nitrocelulose são muito frágeis e não possuem proteção contra os raios ultravioleta, ou seja, amarelam e trincam com o tempo, desgastando mais rápido. Muitos dizem que é o melhor acabamento, pois era utilizado pela Fender e etc. Precisamos considerar que ele era utilizado, porque era o material disponível na época, tanto que após o lançamento das resinas PU e poliéster, a Fender passou a utilizá-las. Não existem provas concretas de que o nitro deixa o som do instrumento fluir melhor, mas essa é uma discussão que pode durar para sempre, e vai da percepção de cada um. Compartilhamos do pensamento de que se o PU fosse ruim, guitarristas como Satriani, Vai, e muitos outros utilizariam guitarras pintadas em nitro, mas lembre-se, utilizando um bom amplificador, diversos pedais em série com efeitos simultâneos, dentre outras coisas de guitarrista, essa diferença de timbre pode ser anulada caso exista. Em instrumentos acústicos diferenças entre os tipos de pintura são mais perceptíveis.
 O poliéster é mais utilizado no fundo, ou seja, por ser muito rígido ele forma uma ótima base para aplicação da tinta e verniz, selando totalmente os poros da madeira. Não se iludam, muitas fábricas vendem guitarras com verniz nitro, porém com fundo poliéster aplicado. Então, não faz muito sentido o timbre ser melhor, se o fundo é grosseiro e sela completamente os poros da madeira.
Aqui na Music Kolor realizamos qualquer tipo de acabamento a gosto do cliente, preferimos ficar fora dessa discussão do que é melhor ou pior neste caso.


(GMB) Outro assunto recorrente nesses fóruns gira em torno da utilização de pintura automotiva em instrumentos musicais de madeira. A pintura automotiva pode ser aplicada sem causar prejuízos ao instrumento?

Antes e depois Ibanez S
(RR): Mais um assunto delicado, vamos lá. A pintura automotiva é bem parecida com a pintura de instrumentos musicais. Primeiramente, precisamos entender como é feita a pintura de um automóvel na fábrica.
A pintura automotiva começa com a limpeza da peça, que chamamos de desengraxe, removendo todos os resíduos de óleo e da estamparia da peça. Em seguida é feita a aplicação de um pré-tratamento, que é a fosfatização de zinco, que consiste em recobrir a superfície do aço com fosfato de zinco, tendo por objetivo aumentar a resistência dessas peças à corrosão. Este processo é seguido da eletrodeposição de tinta, processo chamado de eletroforese. As tintas usadas possuem uma formulação especial que permite sua polarização, ou seja, a carroceria é ligada ao pólo negativo dos retificadores de corrente contínua, estabelecendo entre a peça e a tinta onde ela está imersa, uma diferença de potencial, de modo que os compostos orgânicos com carga positiva que estão presentes na formulação sejam atraídos para o pólo negativo, que é a carroceria do veículo. Dessa forma, toda a peça fica recoberta com uma camada uniforme e aderente de tinta, com espessura na faixa 20-40 µm. Desta forma a chapa está protegida contra a corrosão, este é um processo feito em sete estágios, e normalmente em dois estágios são feitos com imersão total da carroceria do veiculo, isso varia de acordo com cada montadora.
Finalmente é aplicado o Primer (aquele fundo cinza). Desta etapa em diante é o que vemos ser feito em oficinas de funilaria e pintura.
Depois de aplicado o Primer, aplica-se a tinta de base poliéster (preto, branco, prata, vermelho, cores metálicas ou perolizadas, etc.); em seguida o verniz Poliuretano (PU) incolor com proteção UV.
Alguns destes processos podem ser aplicados nos instrumentos, como por exemplo, as tintas de base poliéster, preto, branco, prata, etc. e o verniz PU incolor. O Primer cinza é muito espesso, inviabilizando sua aplicação em uma pintura sunburst, por exemplo.  Então deixamos de lado o fundo cinza, ok?
A tinta e o verniz não causam dano algum, só devemos substituir o fundo com um fundo PU transparente para madeira ou o fundo poliéster que é utilizado em muitas fábricas de instrumentos. Como é vendido em quantidade, se a sua produção for pequena, recomenda-se utilizar o fundo PU transparente, que inclusive é mais fácil de manusear também.
Um contra do verniz automotivo, motivo pelo qual muitas pessoas reclamam, é que ele não “seca”, ou seja, ele fica borrachudo e marca facilmente. Devido sua aplicação, o verniz automotivo tem certa maleabilidade e não tem uma dureza similar a um verniz PU moveleiro. Na indústria moveleira, o móvel é pintado e em poucos dias já está embalado, podendo até mesmo já ser utilizado. Já o automóvel, fica “secando” muitos dias até sair da fábrica e chegar ao consumidor final.
Mesmo com todas essas informações, não recomendamos levar o instrumento em uma oficina, pois o processo de pintura envolve lixamentos finos, e não é todo funileiro que sabe acertar o shape de um instrumento musical. Por exemplo, em uma Les Paul, esse desconhecimento pode prejudicar o acabamento.


(GMB): Quais são os principais cuidados para manter a pintura do instrumento em bom estado de conservação? Aproveitando a pergunta, cera automotiva é indicada para fazer a limpeza e polimento do instrumento?

SG MK Custom Shop
(RR): A principal limpeza que o cliente precisa se preocupar é com a limpeza das cordas, essa sim pode danificar o instrumento devido a ferrugem causada pelo ácido úrico das mãos, acarretando na ferrugem dos captadores e hardware.
Quanto à pintura, não precisa nada de mais, um algodão de polimento facilmente encontrado nas lojas de pintura automotiva já resolve o problema, uma boa opção é a da marca Norton. Se a pintura for feita em PU, os lustradores automotivos podem ser utilizados tranquilamente. Não precisa usar massa de polir numero 1 ou 2. A massa de polir serve para retirar riscos de lixa, ou seja, são mais abrasivas, para manter a pintura só é preciso utilizar um alto brilho que pode ser aplicado com o algodão citado anteriormente. Existem polidores próprios para instrumentos, mas devido ao custo não acredito que seja necessário.
Um paninho de micro fibra úmido com uma gotinha de detergente neutro pode ser utilizado para retirar a gordura da pintura, depois é só passar o algodão e pronto. Sem segredo!


Pintura metálica Pewter
(GMB): Ainda nesse ano, teremos alguma novidade na Music Kolor em termos de parcerias ou prestação de serviços?

(RR): Sim e são muitas! Temos novos parceiros, como: Carrozza Custom Guitars, somos responsáveis pela pintura dos instrumentos Wood, do nosso amigo Pedro Wood. Temos clientes com parceria forte na região sul do Brasil, como o Peruzzo, Polvani, SK Luthieria, dentre outros que estão desenvolvendo um trabalho de muita qualidade. Estamos fechando muitas parcerias com profissionais de muitas cidades do interior de São Paulo, em São José dos Campos, por exemplo, já temos como representante o luthier Samuel Soares. Consolidamos uma parceria legal com o luthier Sergio Buccini, profissional que atua no bairro Itaim, em São Paulo e nosso amigo Celso Freire de Campinas, que confia as pinturas da Dreamer Guitarworks aqui conosco, temos também a Jack Daniel´s Brasil que realiza trabalhos conosco.
 É muito bom ser lembrado por grandes profissionais e grandes marcas quando precisam de um trabalho especial.





CONTATOS MUSIC KOLOR E MK CUSTOM SHOP





Site MK Custom Shop: http://www.mkcustomshop.com/



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Bate-papo sobre freijó com o luthier Henry Canteri (HC Guitars)

Bate-Papo sobre imbuia com o luthier Marcelo Valédio (Valédio Custom Guitars)

Bate-papo sobre louro-preto com o luthier Ariel Frainer (Frainer Custom Guitars)