Bate-Papo com o guitarrista Billy Brandão (Frejat, Erasmo Carlos)


Billy Brandão é guitarrista, produtor e compositor. Ao longo da carreira, gravou e excursionou com grandes nomes da MPB e do pop/rock nacional, como: Lobão, Marisa Monte, Paulinho Moska, Ana Carolina, Orlando Morais, dentre outros. Fez parte da banda Buana 4, que emplacou a música “Eu Só Quero Ser Feliz” como tema de abertura da novela global “Top Model”. Atualmente, faz parte das bandas que acompanham os cantores Frejat e Erasmo Carlos.

Durante a entrevista, ele nos contou um pouco sobre sua trajetória na música, deu sua opinião sobre alguns aspectos da indústria do entretenimento, falou sobre sua peculiar guitarra Telecaster custom shop fabricada pelo luthier Márcio Zaganin, explicou a proposta de seu canal no Youtube e revelou detalhes da produção de seu vindouro disco de estreia que contará com a participação especial de grandes músicos do cenário nacional.  


Por: Álvaro Silva (ahfsilva@gmail.com)

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Billy Brandão e sua JazzMaster N.Zaganin (foto divulgação)

Como começou sua história com a música? Quais foram suas primeiras influências?

Billy Brandão:

Como quase todo músico que conheço (a maioria ao menos) a música sempre esteve presente em casa.

Minha avó foi professora de piano e tinha um órgão, meu pai violonista amador e nas festas sempre tinha música (quando moleque não me interessava tanto pelas músicas que tocavam nas festas lá de casa, coisa que só apareceu mais tarde).

Paralelamente, no Brasil dos anos 70, existia um nacionalismo muito forte (mesmo com toda repressão a compositores como Chico e Caetano), então eu lembro que a minha busca pra ouvir um rock’n’roll estava sempre em atividade.

Certo dia, uma tia me deu de presente uma compilação dos Stones e eu ouvia até rasgar. Recordo-me que pais curtiam o rock’n’roll mais clássico (Bill Haley, Chuck Berry e até Beatles), e ainda tive a sorte de ser “criado” à base dos filmes do Roberto e Erasmo, que certamente tem um peso predominante na construção do meu paladar.

Acho que daí vem minhas primeiras referências.


Quando você percebeu que a música seria sua profissão? Você já se imaginou fazendo outra coisa caso não fosse músico?

Billy Brandão:

Eu comecei a tocar muito cedo, até porque existiam aulas de musicalização nas escolas, e fora isso, eu me lembro de ouvir a 5ª de Beethoven com uns cinco anos e decidi que queria reger aquilo ali, queria ser maestro (aquilo é puro heavy metal, né?)! Mas pra ser maestro tinha que começar por algum instrumento e fui estudar violino (é sacrificante), meu primeiro instrumento. Briguei com ele por uns três anos, até que me decidi que queria tocar guitarra.

Como o acesso a instrumentos naquela época não era fácil (e meus pais não iriam empatar uma grana em equipamento para uma criança), fui pro violão. Fiquei uns bons anos exclusivamente nele, até que um amigo do meu pai me fez uma doação de uma guitarra que ele tinha encostada em casa (uma “Brucutu” dos anos 60 que tenho até hoje). E aí eu fui!

Quanto à decisão de me profissionalizar, eu acreditava que era preciso ter um diploma em música para seguir na profissão, mas aqui não tinha faculdades que não fossem “caretas”, então eu decidi que faria design para criar as capas de discos (que eu também curtia) e tocaria por hobby, até que surgiu a Unirio - uma faculdade com uma proposta mais moderna, mas fiz o vestibular e não passei no exame de música. Nessa época, eu já estava tocando em bandinhas de colégio e tal, e daí pra barzinhos foi uma consequência natural. Quando eu vi já era...

Trocando licks com Frejat (foto Marco Antônio Cunha)

Muitas vezes a indústria do entretenimento proporciona altos e baixos aos artistas. Ao longo dos seus mais de trinta anos de carreira você passou por momentos assim? Como você lidou/lida com esses momentos?

Billy Brandão:

Passei e passo! Nesse aspecto é uma profissão muito ingrata. Você não tem estabilidade e o “funil da competitividade" é muito grande, e, além disso, muitas e muitas vezes, por um tipo de “vaidade” do mercado, a busca pelo “novo” é mais interessante do que pelo “respeitado”, entende?

Então é uma situação em que você não pode “descansar sobre os louros” da sua carreira e tem que estar constantemente tendo que provar seus méritos.

Ao menos é o que eu observo e como me sinto.

Se você tem a sorte e o talento (um não funciona sem o outro) de conseguir ter uma carreira bem sucedida e a cabeça no lugar pra fazer um pé de meia pra te segurar nos momentos de baixa, menos mal. Entretanto, eu conheço muitos que não tiveram e ficaram achando que depois que eles “chegaram lá” as coisas se manteriam na bonança. Eles passaram um sufoco, viu?


Ao longo dos anos você tocou com grandes nomes da MPB e do pop/rock nacional (Frejat, Erasmo Carlos, Marisa Monte, Lobão, Ana Carolina, dentre outros). Como é a carreira de sideman? Qual é a principal virtude que o sideman deve possuir?

Billy Brandão:

Engraçado que eu destrinchei essas minúcias em um vídeo do meu canal no YouTube chamado: “10 dicas para ser um músico profissional” (ver aqui).

Na verdade são vários aspectos e é difícil destacar só um, mas se eu fosse resumir, diria que é um misto de profissionalismo (na postura), uma atitude positiva e disponibilidade.

Ah, sim, e SORTE!

Billy Brandão em ação (foto Gustavo Borges)

Atualmente o rock nacional está longe das paradas populares, ao contrário do que aconteceu ao longo da década de 80 e primeira metade dos 90. O que você acha que é preciso acontecer para o rock nacional voltar ao “mainstream”?

Billy Brandão:

Muitas coisas que não estão acontecendo...

A música (e a cultura como um todo) é o reflexo da sociedade, e o que está acontecendo (já há algum tempo) é um empobrecimento e uma falta de investimento em educação assim como cortes enormes no apoio à cultura. fora também a pressão de ideologias religiosas junto aí estado, né?

Não estou falando mal de nenhum estilo musical e muito menos condenando a crença religiosa de quem quer que seja, porém é fato que o rock tem em sua essência a contestação e a rebeldia, então pro establishment é mais fácil um povo focado na música com mensagem de putaria e sacanagem, mas que é uma coisa inócua, do que pintar uma Legião Urbana ou Titãs por aí colocando o dedo na ferida das injustiças sociais, né?


Você usa algumas guitarras fabricadas pelo luthier Márcio Zaganin. Você gosta de participar do desenvolvimento dos seus instrumentos? 

Billy Brandão:

Cara, eu invento muitos problemas para o Márcio (risos)! Eu não sou tão detalhista e nem tão conhecedor pra saber como vai soar um corpo feito de tal madeira, os tipos variados de raio do braço, a largura dos trastes e tal... Porém eu sempre gosto de ter versatilidade nos timbres, então faço umas combinações de captadores diferentes, chaveamentos malucos e até inverto a posição de alguns controles etc. Cada guitarra é de um jeito, por exemplo, na tele que eu tô usando no Frejat agora, a branca, eu inventei que queria uma pintura branca sparkle - o que não existe - e também um binding dourado, que ele foi procurar - literalmente - até à China e não achou, mas o danado deu um jeito.

Telecaster N. Zaganin (foto N.Zaganin)

A quantas anda a gravação de seu disco solo? Você poderia falar um pouco sobre este projeto?

Billy Brandão:

Ah, com muito prazer! Na verdade é o que mais me ocupa no momento, mesmo ainda não tendo sido lançado.

Ele foi gravado e mixado no ano passado e foi todo feito com as mesmas pessoas, amigos músicos e técnicos com quem eu já tinha intimidade e afinidades, mas de trabalhos totalmente diversos e que eu imaginei a combinação na minha cabeça e arisquei juntando eles num mesmo time que deu super certo.

A propósito, inicialmente eu queria mesmo era montar uma banda, mas acho que ninguém mais tem muito saco pra isso depois de velho (fora eu).
Então com essa “cara de banda” eu chamei o baterista Lourenço Monteiro (Marcelo D2, Leoni, Dinho Ouro Preto), com quem eu já havia tocado e já curtia os papos além da música.

Ele curiosamente ficou com um pouco de pé atrás porque dizia: “- Eu sou batera de rock, não sei tocar música instrumental/jazz”. Mas era isso que eu queria, até porque o disco não é de “jazz” propriamente dito, é mais rock/soul/blues eu acho. Acabou que ele arrasou e fez até solo de batera, fazendo uma coisa que eu gosto que é tocar melodicamente e suingando.

No baixo o Alexandre Katatau (Moska, Ed Motta), que tem vasta experiência tocando jazz e coisas mais “encrenca”. Acabou que eu o tirei da zona de conforto falando: “- Tu vai tocar é rock!”. Na verdade ele acabou suingando a porra toda!

Na percussão tem o Lyra, que tocou durante anos com os Paralamas. Eu o conheci quando tocamos juntos no Básico Instinto do Fausto Fawcett e eu simplesmente adoro a onda dele tocando conga e pandeiro.

Contando comigo, esse é o quarteto básico do disco e eu quis me impor uma “dificuldade/desafio” que era fazer um disco sem teclados. Isso porque, se por um lado a ausência dos teclados “esvazia” o arranjo, sobrando mais espaço pra guitarra, por outro lado te deixa com mais funções tendo que cobrir uma área maior, e também é uma coisa de desconforto, ainda mais pra um disco gravado “ao vivo”. A ideia era gravarmos ao vivo, sem overdubs, fizemos assim com o trio básico, mesmo fazendo emendas etc. Mas não tem guitarras dobradas nem nada assim, quando necessário eu usei um pedal de loop.

As percussões foram gravadas depois (essas sim tiveram alguns poucos overdubs) e pra completar o arranjo, eu coloquei um naipe de metais “all star”: Marlon Sette (que além do trombone arregimentou a rapaziada e, aliás, acabou de lançar seu próprio disco), Diogo Gomes no trumpete (que toca com Gil) e Zé Carlos “Bigorna” que dispensa apresentações, uma entidade do sax no Brasil.

Finalmente em duas faixas - que não tinham naipe - eu achei que estavam vazias e precisavam de alguma coisa, e - tentando manter minha proposta de não fazer overdubs - resolvi por um pedal steel, instrumento complicadíssimo que você toca com as mãos, pés e joelhos mudando as afinações, e um amigo meu, Guilherme Schwab (talentosíssimo guitarrista e slide player) tinha acabado de comprar um e estava estudando o instrumento. Resolvi chamá-lo, mas ele ficou com um pé atrás porque estava iniciando no instrumento. Insisti e ele foi lá e arrasou!

Além disso, gravei em um dos melhores estúdios do Rio de Janeiro e que não está disponível para locações, que é o estúdio do Frejat. Ele fez a enorme gentileza de ceder esse espaço para o meu projeto. Não preciso nem dizer que, sendo o Frejat um profundo conhecedor de equipamentos e tal, o estúdio é todo “high end”, contando com a tecnologia mais moderna e ao mesmo tempo prés, compressores, amps e analógicos clássicos, sem contar a coleção de microfones vintage (só na bateria colocamos quase uns vinte, mesmo que em algumas faixas a gente não tivesse usado todos na mixagem). Por sorte, os técnicos que “operam” lá (Renato Munoz, Rodrigo Lopes e Rodrigo Duarte) também são todos amigos e parceiros, então era um ambiente muito familiar e confortável.

Finalmente eu queria dizer que uma coisa bacana foi que todo o processo, desde os ensaios, foram documentados. Estamos fazendo (junto com meu parceiro Raphael Hollanda) uma web série pro YouTube, recheada de entrevistas e mais uma pá de coisas que colocam a pessoa imersa no processo.

Como eu falei no início, tudo que eu faço atualmente é relacionado ao disco, então eu também estou colocando um gás e investindo no meu canal no YouTube (ver aqui) pra justamente viabilizar a visualização e divulgação disso tudo, fora as estratégias pro lançamento que espero aconteça ainda este ano, mais tardar no início do próximo.

Ao vivo com o Tremendão (foto Wagner Augusto)

Seu canal do YouTube tem um material bem legal com dicas sobre pedais e lições ensinando a tocar algumas músicas que fazem parte do seu repertório. Como está a receptividade do canal? Você tem intenção de investir mais nesse formato de interação com o público?

Billy Brandão:

Tudo que eu faço é “interação”, né? Tem muita troca e eu respondo todo mundo que escreve lá nos comentários dos vídeos, às vezes tirando dúvidas de equipamento, às vezes matando uma curiosidade e tal. Como eu sou pretensioso (risos), queria que meu canal e meu disco atingissem um público maior do que os músicos/guitarristas, e a música pudesse atingir o leigo também. Afinal, música é ritmo, melodia e harmonia, e você não precisa saber como é fabricada a cerveja pra querer tomar uma, certo? Então, apesar de saber que o meu público no YouTube é majoritariamente formado por homens e guitarristas (cadê as mulheres guitarristas? Risos) eu tento sempre não por “só” conteúdo específico. Lá você vai ver os reviews de equipamento, as aulas sobre aspectos técnicos e esse tipo de conteúdo, mas tem também coisas que eu acho que possam interessar aos fãs “leigos” como entrevistas, bastidores e também videoclipes de shows.

Eu espero de coração que a gente consiga ter uma projeção, despertando um interesse em outros públicos como já aconteceu em outras épocas quando Jeff Beck e Jean Luc Ponty tocavam normalmente nas rádios e até a Banda Black Rio teve música (“Maria Fumaça”) em abertura de novela, né?

Vamos divulgar essa ideia!


Como estão os projetos para o segundo semestre deste ano?

Billy Brandão:

Como demorei esses anos todos pra fazer o meu primeiro disco, posso também não ser afobado (já que também não tem nenhuma gravadora me pressionando com datas) pra poder planejar tudo direitinho, e graças a Zeus tem umas pessoas muito talentosas e espertas do meu lado me ajudando a formatar tudo.

Enquanto isso continuo produzindo e divulgando meu canal no YouTube (ver aqui), o que me toma muito tempo, pois editar vídeo é uma coisa que eu comecei a fazer agora então apanho muito e faço tudo sozinho (filmo, gravo, edito...). Como também as contas não param, continuo me desdobrando entre os shows com Frejat e Erasmo, além de fazer - com alguma regularidade - gravações para trilhas da Globo e etc. Além disso, faço gravações “à distância” tocando no disco de pessoas que me contatam online.

Spoiler alert: como eu demorei pra “começar essa estória” de gravar meu disco, eu tinha muita música guardada, então na verdade eu chamei essa banda pra gravar uma trilogia: O 1º instrumental, o 2º cantado (e já temos 4 bases gravadas porque a gente fez com as sobras de tempo do estúdio) e um 3º mais acústico que vai ser meio cantado, meio instrumental, meio folk, tipo “Neil Young encontra Pat Metheny pra tocar Leonard Cohen”...


Contatos Billy Brandão:





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