Bate-papo com o baixista Adriano Campagnani



Um dos principais nomes do contrabaixo no Brasil, o mineiro Adriano Campagnani cresceu em uma família repleta de músicos amadores, mas foi na adolescência, precisamente aos doze anos, que teve seu primeiro contato com o contrabaixo.

A paixão pelo instrumento levou Campagnani a se especializar, e hoje, com mais de duas décadas de carreira, possui no currículo participações em estúdio ou na estrada em trabalhos de artistas de vários gêneros musicais como Beto Guedes, Flávio Venturini, Kid Abelha, Jota Quest, George Israel, Wilson Sideral, Marku Ribas, Juarez Moreira, Esdras “Neném” Ferreira, Chico Amaral, dentre outros.

Como artista solo, lançou três álbuns autorais dedicados à música instrumental e um DVD ao vivo. Além disso, participa do Weather Report Tributo e integrou o grupo Lizards Trio, projeto musical em parceria com Augusto Rennó, guitarrista do “Sagrado Coração da Terra”, e seu irmão, o baterista André Campagnani.  

Atualmente, ele divide seu tempo entre trilhas, direção musical, arranjos, workshops, turnês e está preparando o lançamento de seu novo trabalho solo - o disco Cosmopolitan.

Durante a entrevista, Adriano Campagnani contou como surgiu a paixão pelo contrabaixo, principais influências musicais, equipamentos que utiliza, compartilhou um pouco de suas experiências como sideman e muito mais.

Entrevista por Álvaro Silva

Como surgiu sua paixão pelo contrabaixo?

Minha infância sempre foi cercada por instrumentos musicais. Venho de uma família repleta de músicos amadores, então sempre tinha um violão em algum canto da casa, além do piano da minha avó. Entretanto, foi aos 12 anos de idade, na casa de um colega de escola, que tive o primeiro contato com um contrabaixo. Me lembro dele tirar um case debaixo da cama e dizer: "- Olha o que o meu irmão mais velho tem". Eu peguei o contrabaixo (um "Jennifer" preto) toquei a primeira nota e imediatamente pensei: "O que eu preciso fazer para viver fazendo isso o resto da vida?”. Foi imediato e arrebatador.

Quais são suas principais influências musicais?

São muitas. Posso citar Toninho Horta, Nico Assumpção, Arthur Maia, Alain Caron, Marcus Miller, Jaco Pastorius, entre outros.

Algum artista novo tem chamado a sua atenção dentro do universo do contrabaixo?

Existem muitos músicos excelentes por aí. Com a internet, o acesso aos trabalhos ficou mais fácil. Nos últimos anos, o baixista Anthony Tidd foi o que mais me impressionou com o álbum “Quiet Sane”.

Você já lançou três CDs solos e autorais dedicados à música instrumental – “I” (2005), “Galápagos” (2011) e “Instrumental das Esquinas” (2017) – , além de um DVD (“Galápagos”). Planeja dar sequência em sua discografia solo?

Com certeza. Desenvolvo um trabalho autoral desde 1995, e esses discos são resultado disso. Paralelamente aos trabalhos como sideman, cada vez mais venho investindo no meu trabalho próprio.



Desses três álbuns de estúdio, você tem algum preferido ou que te marcou mais?

O "Instrumental das esquinas", meu último álbum. Consegui reunir uma constelação de artistas convidados e sou fã de todos eles.

Fazer música instrumental no Brasil é um desafio muito grande?

O fato de viver de música no Brasil já é um desafio muito grande. A música instrumental sempre teve e sempre terá seu público. Aliás, com a internet, tudo ficou mais acessível. Outro aspecto importante é que os festivais de jazz também estão crescendo em todo o país.

Você já dividiu os palcos ou trabalhou em estúdio com importantes nomes da música brasileira, gente como Beto Guedes, Kid Abelha, Marina Machado, Juarez Moreira, Marku Ribas, Jota Quest, Wilson Sideral e muitos outros. Na sua opinião, qual é a principal característica que o sideman deve possuir?

O músico que quer realmente viver de música tem que priorizar o que eu chamo de "administração do ego musical", ou seja, tocar o que está sendo pedido, o que o diretor musical ou o artista quer ouvir, e não o que você acha que eles querem ouvir. Isso é o preceito básico para a versatilidade do músico, e com certeza, define se o músico vai trabalhar profissionalmente ou não. Claro que envolve outros quesitos como sonoridade, timbres, equipamentos, técnica em dia etc. A administração de tudo isso é o pacote que o músico deve oferecer como produto final.

Sobre equipamentos, qual o seu setup atual? Geralmente ele varia em situações de palco ou estúdio?

Sim, varia. O setup varia muito tanto em estúdio quanto ao vivo. Meu setup principal é composto pelos baixos Jazz Bass (corpo e braço fabricados pela Stewmac), Warwick Streamer Stage II (5 cordas) e Fretless de 06 cordas construído pelo grande Luthier Ademir Souza, além dos instrumentos fabricados pela Michael Instrumentos Musicais, com quem tenho uma parceria consolidada.

Com relação aos efeitos, costumo usar um Pré-amp Sadowsky, Envelope Filter MXR, Octave Bass Fuzz MXR, Delay Line 6 DL4, OC 2 BOSS e um Synth Roland GR55.

Sobre amplificadores, uso SWR SM500 com caixas GOLIATH I e II e combo ROLAND D-BASS 2X10.

Baixo construído pelo luthier Ademir Souza (ACS Guitars).

Setup ao vivo.

Você é endorsee da marca Michael Instrumentos Musicais. Como surgiu essa parceria? Quais modelos de contrabaixo da marca você vem utilizando?

A parceria com a Michael vem de anos e o resultado hoje é excelente. A Michael disponibilizou um instrumento para eu sugerir modificações, e baseado nesse protótipo, eles fabricaram o modelo BM-515N com as modificações que eu sugeri. Um excelente instrumento de 05 cordas. Além dele, uso um modelo Precision e um baixolão muito bom.

Contrabaixo Michael BM-515N.

Além de ter feito parte do Lizards Trio, atualmente você faz parte do Allunar, grupo mineiro formado por você, Ian Guedes, Rodrigo Borges e André Godoy. Trabalhar no formato de banda é muito diferente de atuar como sideman ou artista solo?

Com certeza. Banda sempre é diferente, mas como o Allunar é um projeto novo, as agendas ainda não se casaram com os trabalhos já existentes dos músicos. É um som muito legal, mais pra frente vai dar o que falar.

Além de realizar apresentações, vocês planejam lançar um álbum ou um EP?

Sim. Inclusive ele já está sendo produzido e será marcado por grandes parcerias realizadas com artistas como o Nando Reis, Chico Amaral e Ronaldo Bastos.

Como andam os planejamentos para 2022?

Meu novo CD solo já está pré-produzido. Ele se chamará “Cosmopolitan”. Com certeza lançarei este ano.

Quais dicas você daria para os baixistas que estão começando agora e sonham em se tornar profissionais?

Manter os ouvidos e a mente aberta para todos os estilos brasileiros e de fora do país (música africana, indiana, americana, oriental etc.) e absorver tudo de melhor de cada, pois música é estudo pra toda a vida. Quando você para de estudar e de aprender, automaticamente o instrumento te abandona.



Maiores informações no site, Facebook, Instagram, Twitter e YouTube do Adriano Campagnani.

 

Ouça os álbuns clicando aqui.


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