Bate-papo com o luthier Sérgio Kuns (Kuns Handmade Guitars)
Tenho o prazer de iniciar as
postagens do blog apresentando o trabalho do luthier Sérgio Kuns, responsável pela Kuns Handmade Guitars, localizada em União da Vitória – Paraná.
A guitarra que será exibida e
debatida é uma Les Paul Goldtop totalmente feita à mão pelo Sérgio.
Deixo aqui meus sinceros
agradecimentos ao luthier Sérgio Kuns
pela atenção e pela confiança na seriedade do nosso projeto.
Bom, vamos à descrição do
instrumento.
GUITARRA KUNS LES PAUL GOLDTOP
Corpo: curupixá
Braço: curupixá
Escala: jacarandá
Captadores: Malagoli P90 Custom Shop
Tarraxas: Wilkinson
Ponte: Tune-o-matic
Trastes: tamanho médio
BATE PAPO COM SÉRGIO KUNS
Guitarras Made In BraSil (GMB): Como começou sua história na fabricação de guitarras?
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Luthier Sérgio Kuns |
Muito tempo passou, e mais
recentemente (acho que faz uns 10 anos) tive uma vontade, que não sei de onde (re)surgiu,
de construir uma guitarra a partir do zero. Então peguei umas madeiras de um
sofá velho, umas madrepérolas, e comecei a fazer uma escala planejada para ser
de uma Les Paul. Depois de 02 anos concluí o projeto, e a tenho até hoje, uma Les
Paul totalmente feita à mão, com um timbraço e visual matador.
GMB: Você aprendeu o ofício sozinho ou fez algum
curso? Como foi seu aprendizado?
SK: Não fiz curso nenhum, mesmo
porque onde moro isso não existe. Mas não posso ser injusto e dizer que aprendi
sozinho, pois com a internet a gente acaba tendo acesso a todo tipo de
informação. Então, muita gente me ajudou nesse aprendizado. Visitava fóruns de
discussões da arte da luthieria, fazia perguntas, olhava vídeos no Youtube,
enfim, muita gente me ajudou, e assim fui metendo a mão na massa, errando e
acertando, pegando o jeito da coisa. Fiz muitas amizades naquele período,
algumas que mantenho até hoje, e hoje quando alguém me procura pedindo dicas,
sempre sou muito atencioso e paciente em ajudar porque lembro que foi o caminho
que trilhei, e de quantas pessoas assim o foram comigo.
GMB: Você acha que a fabricação artesanal de
instrumentos musicais é uma área bem reconhecida no Brasil ou ainda é pouco
valorizada?
SK: Quando você consegue “fazer” seu
nome, pode ser bastante valorizado sim. Há luthiers brasileiros que são
conhecidíssimos e com isso o trabalho deles, além de bastante procurado, é bem
remunerado. O problema que vejo é o pouco espaço que publicações especializadas
em instrumentos de cordas (guitarras principalmente) dão àqueles que estão
começando. Se você pegar uma revista de renome nacional, quais são os luthiers
que frequentam as suas páginas? Os mesmos 2 ou 3 de sempre, que todo mundo
conhece. São sempre eles que aparecem nas sessões de customização, dicas de
como trocar cordas, escolha de hardware, etc... Provavelmente por algum tipo de
acordo comercial, não sei ao certo do que se trata, mas o fato é que os novatos
não encontram muito incentivo desse tipo de mídia, o que é uma pena. Essas
revistas deveriam se utilizar da abrangência que possuem em todo o Brasil (e
até no exterior) para divulgar novos nomes. Tem muita gente extremamente
talentosa por aí, fazendo trabalhos maravilhosos. Outro ponto que pega é a
questão da “marca consagrada”: infelizmente, quem adquire uma guitarra já
pensando numa futura revenda, sabe que será mais fácil fazer isso caso seja de
uma marca conhecida. Uma guitarra de luthier, por melhor que seja, não tem o
poder de compra/venda que uma marca conhecida tem. Isso é uma questão cultural
nossa, de valorizar às vezes mais a marca que o próprio objeto em si. Quanta
gente não sonha com uma Gibson, assistindo aos vídeos do Slash, e no entanto
não sabem que a lendária Les Paul usada por ele era na verdade uma réplica
construída por luthier....
SK: Claro. Em relação às madeiras,
não uso nenhuma que não saiba ser adequada para esse ou aquele fim. Quando quero
testar uma madeira, antes pesquiso para saber se pode ser usada num braço, por
exemplo. Imagine construir um braço e só depois de todo o trampo (que não é
pouco) descobrir que não era adequada para tal. No que diz respeito ao
hardware, procuro fugir de coisas muito baratas, afinal que qualidade você terá
numa ponte estilo Floyd Rose de 100 reais? Já cheguei a testar captadores
baratos (chineses) que até tinham timbre interessante, porém, por não serem
parafinados, apitavam demais. Nos materiais de acabamento também é necessário
usar tintas e vernizes de boas marcas para garantir um melhor acabamento e uma
boa durabilidade. Resumindo: não acho necessário pagar fortunas por hardware e
madeiras “de grife”, mas também não acho correto querer economizar demais e
comprometer todo um projeto.

SK: O timbre ficou
excelente, pelo menos é o que penso. Isso pode ser conferido no cover de Hotel
California (Eagles), que a banda Hardways disponibilizou no Youtube. É claro
que o timbre deve ter ficado um pouco diferente de uma Les Paul tradicional,
mas eu não sou nenhum Eric Johnson para perceber isso. Aliás, e porque
precisaria ser? Acredito que uma guitarra deve unir bons timbre e visual, sem
se prender a mesma fórmula de sempre. Lembre do Brian May, que construiu a Red
Special sem se preocupar em reproduzir / imitar um timbre já existente. Usou
madeiras da lareira que tinha em casa, peças velhas de motocicleta, e criou uma
das guitarras mais lendárias do rock. Escolhi o curupixá, pois foi a madeira
que encontrei com facilidade aqui na cidade onde moro. Lembro que na época
procurei a opinião do grande mestre Luigi Cimafonte (RJ – um grande cara) sobre
essa madeira, pois já havia gostado da aparência dela (que lembra bastante o
mogno). Ele me disse que era uma excelente opção, tanto para o corpo quanto
para o braço. Lembro bem que ele me disse que se encontrasse essa madeira lá,
não usaria outra. Depois desses conselhos, comecei a usar o curupixá, e o
resultado é muito satisfatório, tanto no timbre quanto no manejo da mesma.
GMB: Trabalhar com
madeiras diferentes é uma proposta sua ou um anseio do cliente?

Contato Kuns Handmade Guitars: https://www.facebook.com/sergio.kuns?fref=ts
Muito bom! Não conhecia a Kuns!
ResponderExcluirKuns gente finíssima !! Curto os trampos dele !! Ótimo profissional !1
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