Bate-papo com Adair Torres, músico e fabricante de pedal steel guitar

Saudações!

Na postagem de hoje, apresentamos um bate-papo com o músico Adair Torres, referência no Brasil quando o assunto é pedal steel guitar, músico bastante requisitado por grandes nomes da música brasileira, possui no currículo gravações com o cantor Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Daniel, Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, Sandy e Júnior, Alexandre Pires, Jamelão e muitos outros. Além disso, ele é sócio-proprietário da TowerS Steel Guitars, empresa especializada na fabricação de pedal steel e lap steel guitar.

Durante a entrevista ele nos contou um pouco sobre sua carreira musical, pedal steel guitar, dentre outros assuntos.

Registramos aqui nossa imensa gratidão ao Adair Torres pela participação.

*Clique sobre as fotos para melhor visualização.

Músico Adair Torres (foto de divulgação)

Como foi seu contato inicial com a música?

Adair Torres: Acho que meu contato inicial com a música foi parecido ou igual ao de vários músicos e amigos. Tudo começou aos 07 anos com um velho violão da marca Tonante que meu pai comprou. Acho que era o mais barato, pois no início, todos os meus amigos praticamente tiveram o mesmo, inclusive a cor era igual, verde.
Aprendi a tocar com um amigo do meu pai, isso foi na década de 60. Meu pai, apesar de gostar de música sertaneja de raiz, também gostava de The Shadows e The Ventures. Nunca tive nada contra a música sertaneja, pelo contrário, mas tirar as músicas desses grupos (como dizíamos), tornou-se um desafio e um aprendizado emocionante.
O surgimento dos Beatles foi um marco. Acho que nem é necessário comentar muito a respeito, pois foi igual para todos. Primeiro foi um susto, depois um imenso desejo de montar uma banda.
Quando completei 14 anos aproximadamente, fui convidado por um guitarrista japonês que tinha uma banda só de músicas instrumentais da época, como Shadows, Ventures etc. Como eu conhecia praticamente todas essas bandas, fui convidado para tocar como guitarrista base (era assim que chamávamos o segundo guitarrista das bandas). Ele conseguiu autorização no Juizado de Menores para que eu pudesse tocar no famoso “Baile das 10 às 04”.


Como surgiu a ideia de tocar pedal steel? Foi uma demanda profissional que você tinha ou por outro motivo?

Adair Torres: Na década de 60, me lembro de ter ouvido um vinil na casa de um americano amigo do meu pai, era um som parecido com guitarra, mas não era guitarra. Era pedal steel e o músico era Buddy Emmons (o melhor de todos os tempos). Não entendi nada, mas não esqueci aquele som. Eu ouvia o Poly (músico brasileiro) tocando havaiana (é o instrumento que mais se aproxima da sonoridade de um pedal steel), mas sabia que não era a mesma coisa, era apenas um som parecido.
Já na década de 70 (em 77 para ser mais exato), eu estava na loja Museu do Disco em São Paulo, quando vi novamente aquele vinil (do Buddy Emmons). Lembrava-me perfeitamente da capa. Comprei e passei a ouvir aquele instrumento com uma atenção especial.
Eu já havia tocado em bandas de garagem, bandas de baile etc., decidi vender tudo que tinha para comprar o pedal steel. Demorou, primeiro comprei um five-string banjo e passei a pesquisar e a ouvir muita música country, estilo em que o pedal steel é obrigatório.
Somente em 1980 consegui comprar o meu primeiro, e, nessa época, eu já era musico de estúdio.


Você começou numa época pré-internet, em que o acesso à informação e ao próprio instrumento era muito difícil. Como você aprendeu a tocar o instrumento (pedal steel)?

Adair Torres: Eu sempre fui autodidata em todos os instrumentos que toco, mas sempre com muito cuidado para não aprender errado. Se eu sentisse alguma dificuldade em conseguir tocar corretamente, parava para não adquirir o famoso vício musical e pedia para qualquer amigo que estivesse indo aos Estados Unidos que me comprasse determinada videoaula ou songbook. Nunca gostei de aprender pela metade. Sempre respeitei limites. Faz 37 anos que toco pedal steel, mas todo dia estudo pelo menos uma hora, sempre ao final de cada gravação. Hoje atendo o Brasil todo e alguns lugares dos Estados Unidos para gravar pedal steel.


Quais são suas influências musicais?

Adair Torres: Tenho grandes ídolos que tocam pedal steel. O supergênio Buddy Emmons, conhecido como “The Big E”, praticamente criador do pedal steel, ele conseguiu colocar o pedal steel no nível em que se encontra hoje, tanto na música popular quanto no jazz. Ele influenciou a todos. É impossível falar em pedal sem mencioná-lo. Cito também Paul Franklin, “O Mágico”, Lloyd Green, Mike Johnson, dentre outros.
Como músico, falando agora de guitarristas, apenas para ouvir (porque todos são monstros sagrados e acho que é impossível até querer se influenciar): Eric Clapton, Brent Mason, Joe Pass, Pat Metheny, Steve Lukater, David Gilmour etc.


Você é um dos pioneiros no uso do pedal steel aqui no Brasil, e em consequência dos seus trabalhos ajudou muito na difusão do instrumento, principalmente na música sertaneja. Tendo em vista que é um instrumento de origem estrangeira e visualmente distinto dos demais, no início chamava muita atenção?

Adair Torres: O músico Poly já havia falecido e deixado uma lacuna porque a guitarra havaiana era praticamente obrigatória na música sertaneja, então eu senti que incluir o pedal steel nos arranjos sertanejos seria uma grande ideia. Como eu tinha a amizade dos grandes produtores e arranjadores, foi apenas uma questão de conversar. Depois disso, não demorou muito não, em menos de um ano, eu já estava gravando pedal steel para todos os artistas e continuo até hoje. Eu também já tinha um estúdio e sempre me oferecia para gravar.
Como eu tocava vários instrumentos tradicionais da música country, alguns produtores gravavam direto no meu estúdio, lembro-me que nesta época, por conta dos rodeios e outras coisas, a música sertaneja já estava muito influenciada por esse estilo.

Pedal Steel TowerS S10 Modelo Step One

Além de tocar o instrumento, você também é fabricante (TowerS Steel Guitars). Como surgiu a ideia de fabricar o pedal steel aqui no Brasil? A aceitação foi boa?

Adair Torres: Tudo começou porque eu sempre dava um jeito de comprar pedal steel usado nos Estados Unidos para vender aos amigos. Eles me procuravam pensando que eu tinha uma loja. Além disso, o sistema alfandegário brasileiro é muito complicado, os impostos são altíssimos e o risco de ser taxado em 60% do valor do instrumento é muito grande, o que dificulta a importação.
Sempre dei aula para meus clientes que compravam o instrumento usado e para outras pessoas que adquiriam de outras formas. Certo dia apareceu o aluno William Paschoal. No primeiro dia de aula, durante a apresentação do instrumento, percebi que ele se encantou mais com o mecanismo de “bends” do que com o próprio aprendizado, embora estivesse emocionadíssimo por ter conseguido estudar comigo (não temos professores, nem cursos no Brasil). Perguntei a ele o motivo do encanto com as peças de alumínio e aço e ele me respondeu que elas eram lindas e muito fáceis de fazer, questionei novamente e ele me contou que era formado pelo SENAI e que havia estudado tudo sobre usinagem de peças. Sabendo disso, sugeri de fabricarmos o instrumento, ele faria as peças de metal e alumínio e eu montaria, faria o fine tuning e a parte comercial. Deu muito certo, hoje já temos mais de 25 instrumentos espalhados pelo Brasil.

Pedal Steel TowerS SD10 Luxo
Vocês fabricam outros instrumentos além do pedal steel?

Adair Torres: Atualmente fabricamos dois modelos de pedal steel: o
TowerS SD10 Luxo e TowerS S10 Modelo Step One (estudante). Também temos uma linha de lap steel que vende muito, herança do David Gilmour e Steve Howe, pois sempre que a TowerS vende uma lap steel é para alguém que gosta de Pink Floyd e/ou Yes.

TowerS Lap Steel

Você é músico profissional há vários anos, tem uma bagagem legal em palcos e estúdios, já passou por diferentes épocas, modas e cenários musicais. Como você enxerga a profissão de músico no Brasil?

Adair Torres: Difícil, dura e ingrata. Se é uma profissão, se existe um documento de Ordem, deveríamos ter um convênio médico e odontológico e um sindicato que funcionasse e que fizesse alguma coisa pela classe já que nesse país tem milhares. Nem sei há quanto tempo sou músico profissional, já perdi a conta, mas se existe algum músico que já precisou do sindicato e se deu bem, eu não conheço e gostaria que se manifestasse.


Muitas pessoas sonham em viver de música, seja atuando na linha de frente, sob os holofotes, ou como sideman/músico de estúdio. Você tem algum conselho para dar a essas pessoas?

Adair Torres: Eu sempre falo a mesma coisa quando me perguntam isso: estude, aprenda a ler e aprenda a ser criativo. A música não é uma competição do tipo quem toca mais rápido ou mais alto. Não espere ser despedido porque não está fazendo seu trabalho corretamente.
O mais importante: pausa também é música. Portanto, estude.


Para o pessoal que ainda não conhece o pedal steel, você poderia recomendar algum artista ou algum disco específico?

Adair Torres: Eu recomendaria Paul Franklin, Mike Johnson, Lloyd Green para música popular. Se você gosta de jazz tocado com pedal steel, Buddy Emmons.


CONTATOS ADAIR TORRES E TOWERS STEEL GUITAR






Comentários

  1. Muito legal a entrevista , espero q esta serie de entrevistas como musicos continue

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    1. Muito obrigado, Eduardo! Com certeza. Já tem mais no forno. Obrigado por acompanhar. Abraço!

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  2. Perfeito Edu......Temos grandes talentos que merecem esse espaço para contar sua historia..

    A propósito, todos isntrumentos da TowerS saem da Fabrica equipados com Fullertone Pickups.

    Grande abraço Edu

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  3. Espetacular Adair Torres!

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  4. Recentemente tivemos o privilégio de gravar um CD com a STEEL do Adair Torres. Simplesmente estupendo! Você percebe a diferença do som que ele tira do instrumento(peculiar) envolve a alma. Não é apenas o saber tocar bem, com excelência, mas é um sentimento country impregnado com o tempo, o coração pulsando na ponta dos dedos. Esse é o meu amigo Adair tocando STEEL.

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