Bate-papo com o guitarrista Alex Fornari (Zezé di Camargo & Luciano)

Olá, pessoal!

Postagem nova na área. Desta vez, entrevistamos o guitarrista Alex Fornari. Versado em vários estilos musicais, domina como poucos as técnicas da chamada guitarra country, há mais de doze anos integra a banda que acompanha a dupla Zezé di Camargo e Luciano, além disso, possui vasto currículo como músico de estúdio, tendo participado de gravações em discos de artistas como Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone, Leonardo, Daniel, Fábio Júnior etc, trabalhou como sideman de artistas como Paulo Ricardo, RPM, Ultraje a Rigor, Chrystian e Ralf, Roberta Miranda, Eduardo Araújo. Como artista solo, lançou o disco - “A Quem Possa Interessar” (2008) e teve uma música de sua autoria – intitulada “1997” – eleita como “Demo of the Month” na seção “Spotlight” da prestigiada revista americana Guitar Player (edição de dezembro de 1997), oportunidade em que uma coluna técnica de sua autoria também foi publicada (“Chicken-Fried Hammer-Ons”).  

Dentre alguns assuntos, ele nos contou um pouco sobre sua carreira como músico profissional, influências e guitarras.

Ficam registrados aqui nossos sinceros agradecimentos ao Alex Fornari, que nos cedeu um pouco de seu apertado tempo para conversar conosco.

Guitarrista Alex Fornari (foto cedida pelo próprio guitarrista)

Quando você começou a tocar guitarra? Quais são suas lembranças?

Mais ou menos quando o arco-íris era preto e branco (risos). Brincadeiras à parte, comecei com uns 09 anos arranhando um violão Tonante, naquela época era o que eu tinha. Estava descobrindo bandas como os Beatles, os Monkeys (que tinham um seriado de TV), e usava uma vassoura como guitarra. Tudo era mágico, inocência total, então o Kiss veio ao Brasil em 1983, daí fiquei louco pela guitarra. Na sequência teve o solo da música Beat it do Michael Jackson (feito por ninguém menos que o Eddie Van Halen), o Rock in Rio de 1985 com Iron Maiden, AC/DC, Whitesnake (John Sykes e sua Les Paul Custom preta fizeram história naquele festival). Nunca mais me recuperei (risos).
Sem me estender muito, foi uma época em que tudo era muito difícil de conseguir, discos de vinil, por exemplo, ainda não existia vídeo cassete, toda a informação vinha da TV e de algumas rádios, equipamento musical então nem pensar, não tinha mesmo. Entretanto, era justamente isso que tornava tudo interessante e desafiador, com sentimento de busca incessante. Hoje perdeu a graça, pois tá tudo aí disponível, mas ninguém mais quer ouvir música.

Você sempre teve como objetivo ser músico profissional ou foi uma coisa que aconteceu despretensiosamente?

Sempre quis. Decidi quando tinha uns 15 anos de idade. Já tocava profissionalmente, então não tive dúvida. Quando somos jovens temos certa irresponsabilidade que nos leva a conquistar nossos sonhos. Não adianta os outros escolherem o que você vai fazer profissionalmente, essa escolha deve ser sua. Alguns amigos não seguraram a barra dessa dureza que é a vida de músico, porém hoje eles se arrependem, pois como diz o ditado: "escolha um trabalho que você ame e então nunca terá de trabalhar".

Atualmente você faz parte da banda que acompanha a dupla Zezé di Camargo & Luciano, e já foi sideman de vários artistas. Você poderia citar alguns?

Sim, entre eles estão Paulo Ricardo, RPM, Ultraje à Rigor (como substituto do Heraldo Paarmann), Eduardo Araújo, Chrystian solo, Chrystian e Ralf, Roberta Miranda. Em estúdio fiz centenas de gravações que incluem Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone, Leonardo, Daniel, Eduardo Costa, Amado Batista, Paolo, Fábio Júnior, Chrystian e Ralf, Roberta Miranda etc. Existem centenas de artistas menos conhecidos e independentes com quem gravei e toquei ao vivo também.

Você acha que o músico profissional recebe a devida valorização no Brasil?

Vamos estabelecer que viver de música é difícil em qualquer lugar do mundo! Se você estiver procurando ficar rico, deve tentar ser artista, pois músico é uma profissão como qualquer outra, somos profissionais autônomos como tantos no mercado. O que acontece é que existem muitos músicos e pouco trabalho disponível. Tivemos uma queda brusca de cachês depois do advento sertanejo universitário e das bandas de forró eletrônico, pois esses artistas são gerenciados por investidores que não estão nem aí pra música, muito menos para os músicos. Ademais, temos um sindicato muito ruim que deixou toda essa bandalheira de cachês nas mãos de empresários que só visam dinheiro. Acho que o único jeito de mudar é melhorando o nível das músicas (o que acho pouco provável), uma vez que a arte está ligada com a educação e a depuração do gosto das pessoas, como dizia Platão: "preste atenção na música que o governo dá para seu povo". Não é necessário me estender...

Quais são suas influências musicais?

No começo, aquele rock inglês dos anos 60,70 e o pop dos anos 80. Com o passar dos anos veio o jazz, blues e country. Recentemente um cara que me influenciou musicalmente, por incrível que pareça, foi o filósofo Nietzsche. No pensamento dele a "filosofia do martelo" propõe romper com seus heróis e seguir seu caminho próprio, caso contrário você nunca se libertará e não irá atrás do seu lance. Agradeço a todos que me influenciaram, mas hoje não os ouço mais.
Os anos 80 foram uma época de excessos, principalmente de virtuosismo. Hoje vejo como fui enganado pelo marketing americano, pois muitos artistas nem eram tão bons assim. É preciso ter cuidado, pois tudo é pensado pra você nunca parar de consumir, a publicidade joga pesado. Meu conselho seria focar em você e esquecer um pouco os outros. Ninguém está compondo músicas, isso é reflexo de uma sociedade alienada, da tecnologia e do consumo. Enfim, pouca inspiração.

Imagino que ao longo da sua carreira você tenha visto e vivido muitas histórias. Existe alguma que você pode nos contar? 

São muitas (risos). Tem uma engraçada com a Banda Rock Memory. Tínhamos um show em Pederneiras (interior de São Paulo) marcado para onze da noite, mas no mesmo dia faríamos um show em Barueri . Conclusão: pra variar, o primeiro show acabou atrasando e chegamos às quatro horas da manhã para o segundo show, foi quando veio um cara muito nervoso e disse: - "Ceis que são do Rock Memory? Eu tô aqui com uma turma pra dá um pau no ceis!" Foi porrada pra todo lado (risos), felizmente não me machuquei. Como se não bastasse, o cara que nos contratou, chamado Eustáquio, sumiu com a nossa grana. Estamos até hoje procurando ele (risos).

Você coleciona guitarras? Tem alguma preferida?

Não coleciono, esse é um hobby que não cabe no meu bolso (risos). Tenho várias guitarras, mas estou sempre envolvido com duas ou três, depois mudo novamente. As variações são sempre entre as Stratos, Teles e Les Pauls.
Tenho uma que tem um valor sentimental, não é uma custom shop, nem raríssima e cara, trata-se de uma Epiphone 335 que ganhei de presente de aniversário da minha querida esposa e minha linda filha, essa fica só em casa.

Sei que você usa ou já usou algumas guitarras custom shop, feitas por grandes nomes do mercado nacional, como o Márcio Zaganin (N. Zaganin), o Jaques Molina (luthier e colunista da Guitar Player), o Ivan Freitas (Music Maker) e o Natan Protásio (Nt Guitars). Qual é a grande vantagem em possuir um instrumento customizado?

No meu caso como passei por todas as marcas e modelos gringos, havia sempre uma modificação que queria fazer, tipo: essa Fender é legal, mas se tivesse um braço “x” ou um captador “x” ou trastes “x”, poderia ficar melhor. Sempre modifiquei minhas guitarras, a ponto de algumas delas ficarem apenas com o corpo original.
Já com nossos luthiers você tem a possibilidade de fazer a guitarra como imagina, isto é, partindo do zero. Isso pra mim faz toda diferença. Já foi a época em que tudo tinha que ser importado, o conhecimento chegou pra todo mundo simultaneamente com o advento da tecnologia. Ainda bem. Uso guitarras de luthiers desde 1991.


Comentários

  1. Alex Fornari é sem duvida um dos meus herois ....Músico de altíssimo nivel.......Um Timbre sem igual, tipo aquele papo...Eu queria tirar um som igual ao do Alex....Queria, vc não é o Alex....Alex, é exclusivo e tem uma personalidade sonora....Independente do grande musico, é uma pessoa amável, gentil ao extremo....eu diria que Alex Fornari não precisa de Spot Light para brilhar, Ele tem "Luz Própria"...Parabéns meu querido amigo, obrigado por compartilhar sua musicalidade .....Super Abraço........Parabéns a todos envolvidos...Obrigado Guitarras Made In Brasil.......

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  2. Sem palavras para descrever o Alex, pessoa incrível que tive a honra de poder trabalhar. Se tornou um grande amigo que admiro muito. Como o Adair Torres comentou acima, o Alex tem luz própria. Grande abraço e parabéns ao Alex e a equipe da Guitarras Made in Brasil pela entrevista....

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  3. Gostei muito da reportagem, sou músico a algum tempo e também sinto falta da valorização do nosso mercado. Pensando nisso estou em um projeto para desenvolver marcas brasileiras e revender através de um ecommerce de market place.
    Parabéns mesmo! Vamos investir e motivar nossos músicos para sermos orgulho para nossa nação.

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  4. Alex Fornari, o que dizer:
    Além de grande guitarrista é um cara cheio de sensibilidade e de valores absolutos somente do bem, coisa rara hoje em dia, tantas virtudes e grande lucidez para enchergar o mundo e os seres humanos. Parabéns meu amigo é uma honra colaborar com seu novo projeto musical, vamos em frente, absss

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  5. esse é o Fornari....boa praça e muito talento!!!!

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  6. Grande Alex Fornari, excelente músico, além de um ser humano incrível. A guitarra é o seu brinquedo preferido.

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  7. Alex Fornari é sem dúvidas um Herói da Guitarra, é um músico ímpar é uma pessoa muito do bem, Graças a Deus tive a oportunidade de conhecer esse Mestre... Obrigado Mr. Alex, por compartilhar sua história e seus conhecimentos com as pessoas que admiram seu som e seu trabalho!!! Grande Abraço do seu Fã!!!

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  8. Muito Boa a entrevista, parabéns e obrigado Alex e Álvaro.

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  9. Grande Alex eu o conheci junto com João Kurk fazendo um show Supertramp made in Paris e tambem na banda Rock Memory.

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